Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos
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São os comentários, estúpido!

Comentários e reações se tornam mais importantes que post editorializado

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Quer influenciar pessoas? Ou vender ideias e produtos? Então esqueça posts, vídeos, influenciadores e outros conteúdos que aparecem na parte de cima das redes sociais. O que importa cada vez mais é a parte de baixo: os comentários, as reações, as respostas, as repercussões e as interações ao que é postado.

O que domina no mundo de hoje é o aparente caos da parte aberta e livre para interação nas redes sociais. Seria esse o surgimento de uma nova democracia na comunicação? Ou o triunfo do "povo" em sua sabedoria descentralizada?

Nada disso! O que acontece é que grupos econômicos e políticos, que já têm poder, aprenderam técnicas para controlar a parte de baixo das mídias sociais. Essas técnicas envolvem uso de robôs, sockpuppets e times coordenados de forma centralizada para espalhar a "mensagem" ou a "ação" que é do interesse desses grupos.

Homem usando laptop num quarto escuro
Homem usando laptop num quarto escuro - Jgolby/Adobe Stock

Tudo com uma diferença importante. Na parte de cima, o conteúdo pelo menos é assinado, dá para saber de onde veio e há um mínimo de responsabilidade editorial envolvida. Na parte de baixo, o conteúdo se disfarça de "voz do povo", de pessoas aparentemente desinteressadas expressando sua opinião. Mas o que ocorre, na verdade, é o uso de dinheiro, pessoas e o emprego de poder computacional para dominar os espaços interativos das redes sociais.

Os exemplos são muitos. A começar por uma marca de roupas que vem fazendo enorme sucesso justamente por utilizar de forma implacável esse tipo de marketing que atua nas caixas de comentários das redes sociais. A marca usa não só influenciadores para espalhar seus produtos mas também um exército de pessoas e contas controladas que patrulham as redes sociais falando bem dos seus produtos e rebatendo na hora quaisquer críticas à qualidade das roupas ou seu modo de produção.

Ou ainda o caso dos fãs da cantora Anitta que usaram uma estratégia para fazer parecer que a cantora estava sendo ouvida mundialmente no Spotify. Grupos coordenados atuaram na plataforma, dando a impressão de que a nova música da artista era a mais ouvida no mundo todo. Só que a ação partia exclusivamente do Brasil. Quem olhasse só o Spotify pensaria estar diante de um fenômeno "espontâneo". A realidade era uma ação coordenada e oculta ocorrendo nos bastidores.

O mesmo tipo de questionamento surgiu com relação ao vencedor do Big Brother Brasil. As votações do programa estão cada vez mais coordenadas e articuladas por equipes de marketing ligadas aos participantes. Quem tem mais dinheiro e mais poder computacional controla mais votos.

Esse é exatamente o problema. Não há "voz do povo" aqui, mas sim efetividade de novos métodos ocultos de marketing. Ou ainda, há uma nova lei do mais forte, pela qual quem tem dinheiro e poder computacional domina os espaços abertos da esfera pública digital.

Em suma, daria para dizer para quem ainda não percebeu: a comunicação do presente está nos comentários e reações, estúpido! Só que estúpido, no caso, somos todos nós, arrebatados por um novo tipo de marketing centralizado que se disfarça de multidão anônima.

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