Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Descrição de chapéu Folhajus WhatsApp

Indústria do golpe criou 'call center do inferno'

Com acesso fácil a dados dos usuários na internet, golpistas se especializam em tirar dinheiro dos cidadãos

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É preciso ser claro e sem rodeios: o sistema de identificação utilizado no Brasil colapsou. Em vez de servir para provar a identidade de uma pessoa, esse sistema é hoje uma chaga aberta que está sendo explorada por criminosos, por meio de golpes cada vez mais sofisticados.

RG, CPF, endereço, nome do pai e da mãe, número do celular e vários outros dados pessoais que o país utiliza como identificação são hoje ferramentas para extorsões, golpes, cadastros ilegítimos e assim por diante.

A razão para isso é uma só: todos os dados de identificação de praticamente todas as pessoas do país vazaram. Esses dados estão hoje livremente disponíveis online ao alcance de golpistas e organizações criminosas.

Mulher digita informações em notebook - Andrew Kelly - 23.dez.20/Reuters

Uma verdadeira indústria surgiu para explorar essas informações. Além do famoso golpe do WhatsApp, que manda mensagem para o pai ou a mãe de uma pessoa alegando emergência e pedindo uma transferência de dinheiro imediata, a cada dia surge um golpe novo no país.

Por exemplo, o golpe do falso call center. O criminoso identifica facilmente o banco em que a pessoa tem conta. Liga então para ela a partir de um número forjado ("spoofed") que corresponde exatamente ao número do banco. A pessoa atende e ouve uma voz 100% profissional, idêntica a dos call centers.

O criminoso então repassa alguns dados da pessoa para ela confirmar. Na sequência, alega que houve um problema de segurança com a conta e que vai transferir para a área de segurança do banco. A ligação é transferida para outra pessoa, também com voz e postura 100% profissional.

A segunda pessoa então começa a passar "orientações" para a vítima. Nesse processo, muitas vezes consegue extrair as senhas e até mesmo convencê-la a fazer transferências bancárias de "teste" para outras contas. Quem é vítima desse golpe fica atônito: como podem saber todos os meus dados? Como podem ter me ligado a partir do telefone do banco em que tenho conta? Ações infelizmente fáceis de serem feitas no contexto atual.

Em outras palavras, se você ainda não caiu em nenhum golpe da internet ou não conhece ninguém que caiu, pode ter certeza de que sua hora vai chegar. A indústria dos golpes baseada nos vazamentos de dados cada dia cria um mecanismo novo de extrair dinheiro e informações das vítimas. Essa indústria se profissionalizou, possui capital, funcionários e protocolos de treinamento. É altamente inovadora. É como se fosse um serviço de atendimento ao consumidor do mundo ao avesso, um call center do inferno.

O que fazer nesse contexto? Na minha opinião há duas coisas a serem feitas. A primeira é indenizar as vítimas dos golpes apurando responsabilidades. No âmbito da Comissão de Tecnologia da OAB-SP estamos apurando responsabilidades para ingressar com medidas cabíveis.

A segunda coisa é reinventar completamente o sistema de identificação do país. O que está aí faliu, ele virou problema e não solução. Idealmente, o caminho deveria ser criar uma identidade digital verdadeira no país, certificada e reconfirmada de forma relacional e permanente na medida que a pessoa vai vivendo sua vida. O sistema de identificação brasileiro precisa de um reboot. Até lá prepare-se para golpes sem fim.


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