O prefeito Marcelo Crivella provavelmente passou os primeiros 15 anos de sua vida usando camisa branca abotoada no pescoço, calças curtas, cueca de pano, sapatos e meias pretas e um pente no bolso de trás. Nunca tomou escondido uma prise de lança no banheiro do clube num baile de Carnaval. Muito menos se fantasiou de árabe sem nada por baixo e nem mesmo se entregou à felicidade de entrar num cordão e cantar a "Cabeleira do Zezé".

Foi-lhe ensinado desde cedo que o Carnaval é o império da desordem, da lascívia e de todo tipo de excesso —que nem as fabulosas orgias do Velho Testamento—, e todos sabem o que aconteceu aos moradores de Sodoma e Gomorra. Donde, para garantir-se contra qualquer fraqueza que o fizesse candidato ao fogo e ao enxofre, Crivella levou a vida longe do Carnaval.

É privilégio do ser humano gostar ou não de Carnaval. Mas o prefeito do Rio de Janeiro não tem esse privilégio. O Carnaval é um dos grandes trunfos turísticos da cidade que ele governa —movimenta milhões de pessoas, gera um absurdo de dinheiro e ajuda até a aliviar as tensões provocadas por uma administração infeliz. Por motivos religiosos ou não e sob o pretexto de "regular" a festa, Crivella tem sido acusado de usar a prefeitura para estrangular o Carnaval.

Ao mesmo tempo, por não gostar do Rio e nem de ser prefeito, entregou a cidade a todo tipo de clandestinidade —camelôs, ambulantes, vans ilegais, flanelinhas—, contribuindo para o florescimento do pequeno crime (o grande crime, fruto do caos estadual, dispensa a sua colaboração). Crivella tem tudo para se tornar o pior prefeito da história do Rio.

Os próximos três anos serão muito difíceis para o carioca. Mas este, escolado, sabe que, de algum jeito, o Rio sobreviverá. O duvidoso é que, politicamente, Crivella sobreviva a si mesmo.