Durante décadas, a cena se repetiu: amigos ou conhecidos de George Gershwin (1898-1937) ficavam de boca aberta ao deparar com um jovem chamado Alan Schneider —a semelhança física entre eles era espantosa. Para Alan, nada demais nisso: ele era o filho que o solteiríssimo George tivera em 1927 com uma dançarina e nunca perfilhara, mas, segundo ele, cuidara de seu sustento e educação. A única condição era a de que Alan nunca se revelasse ao mundo.
Foi exatamente o que, a partir da morte de George, o garoto passou a fazer. Levou a vida anunciando-se como Alan Gershwin e lutando contra os Gershwins oficiais e os advogados responsáveis pelo fabuloso espólio da família —que inclui o controle de obras-primas como “Rhapsody in Blue”, “An American in Paris”, “Porgy and Bess” e centenas de canções como “’S Wonderful”, “The Man I Love” e “A Foggy Day”.
Alan nunca foi reconhecido, nem viu um centavo da herança, mas também nunca desistiu. Para alguns, era um injustiçado; para outros, um sujeito que inventara uma história e passara a acreditar nela; e, para outros ainda, um monomaníaco e um chato.
Alan, talvez por prudência, nunca levou o caso aos tribunais. Um exame de DNA a que se submeteu, e que o dava como um Gershwin legítimo, revelou-se uma fraude. E os cantores a quem ofereceu suas próprias composições, como Frank Sinatra e Tony Bennett, não se interessaram por elas.
Mas Alan não podia se queixar. Sempre teve quem se comovesse com sua história e, principalmente na Europa, o homenageasse em eventos ligados a Gershwin —em Cannes, por exemplo, desceu uma escada iluminada ao som de “Rhapsody in Blue”.
Se isto era pouco para suas aspirações, paciência. Alan morreu na semana passada, aos 91 anos, em Manhattan, e foi enterrado junto aos Schneiders, não aos Gershwins.
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