Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro
Descrição de chapéu

São só perguntas

De onde saem e quem leva os pneus para as manifestações?

Invasão de militantes ao parque gráfico do jornal O Globo, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro
Invasão de militantes ao parque gráfico do jornal O Globo, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro - MST/Divulgação

Há dias, 300 militantes do MST (movimento dos sem-terra) desceram de ônibus fretados e invadiram o parque gráfico de O Globo na avenida Brasil. Seguiram-se pichações, depredações, o estripamento de poltronas indefesas e outras façanhas típicas. Os próprios militantes gravaram a ação e a divulgaram em suas redes sociais, embora não ficasse claro o que um movimento agrário, campestre e pastoril, como o MST, pudesse querer com algo tão urbano como uma gráfica, e numa das autoestradas mais congestionadas do país. 

 

Em certo momento, os militantes começaram a sua grande especialidade: a queima de pneus. Esta é, há algum tempo, uma atração fixa de certas manifestações, dentro e fora das cidades. Os pneus surgem magicamente. Despeja-se gasolina, riscam-se fósforos e a borracha começa a arder. Os colossais rolos de fumaça interrompem o trânsito, entram pelas janelas da vizinhança, asfixiam asmáticos e crianças e atraem a imediata antipatia de milhares de pessoas para a causa do protesto. Bem, isso é com eles. O que me intriga é: quem leva os pneus para a manifestação?

Com quase um metro de altura e 60 quilos de peso, pneus são incômodos e difíceis de manusear. 
É verdade que foram feitos para rolar, mas descê-los das pilhas que costumam habitar e trazê-los ao chão exige força considerável. E quem os tira do chão e joga nas caçambas ou nos porta-malas? Como essa atividade não me parece ao alcance de leitores de Marx e Gramsci, imagino que cada grupo de protesto contrate gente de fora, independentemente da cor política e apenas com força suficiente para a tarefa.

E de onde saem os pneus? Os organizadores dos protestos terão uma verba especial para adquiri-los em borracharias, em troca de nota fiscal, ou eles são simplesmente expropriados em nome do povo?

São só perguntas.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.