Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro
Descrição de chapéu

Novos estilos de esperneio

Não se deve deixar o jus a cargo apenas dos advogados

Postura engessada poderá não ser tão útil a Temer no futuro
Postura engessada poderá não ser tão útil a Temer no futuro - Ueslei Marcelino/Reuters

Na quarta-feira (16), falei aqui do jus esperneandi, o direito que nos assiste de espernear diante de uma decisão adversa e com a qual não nos conformamos. No Brasil da Lava Jato, esse direito tem sido exercido em níveis inéditos, e com razão: nunca na história deste país tantos figurões que se julgavam a salvo da lei espremeram-se em 15 metros quadrados como hoje. E outros deverão se explicar para não ir fazer-lhes companhia. Quando isso acontecer, será divertido ver suas performances no quesito esperneio.

O futuro ex-presidente Michel Temer, por exemplo, descobrirá que, fora do cargo, sua postura engessada de nada lhe servirá. Ele terá de exercitar algum jogo de cintura para poder se mover em meio aos processos que o esperam. Da mesma forma, sua maestria ao usar as mãos, com as quais tece arabescos no ar quando quer enfatizar um ponto, precisará de um correspondente nos membros inferiores. Para isso, terá de aprender a espernear. Não poderá deixar essa tarefa somente a cargo de seus advogados. 

Os homens ao redor de Temer têm dado várias indicações de como reagirão quando chegar a hora —a qual, para alguns, já está às portas. Seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala, se desfará ao primeiro bater do martelo. O esperneio do ex-ministro Geddel Vieira Lima, o homem de R$ 51 milhões, se reduzirá a uma nova crise de choro, só que, finalmente, para valer. E o amigo João Batista de Lima Filho, o coronel Lima, não poderá espernear —será impedido pela cadeira de rodas que usa para não ir depor sempre que solicitado pela polícia.

O também futuro ex-senador Aécio Neves poderia exibir nos processos a desenvoltura com que enfrenta as ondas dos mares de Ipanema. Mas não parece muito apto ao esperneio em terra firme, e o mais provável é que lhe bambeiem as pernas a caminho do tribunal. 

Espernear faz parte, mas não safa ninguém. 
 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.