Em fins de 2016, a Biblioteca Parque do Estado, na avenida Presidente Vargas, fechou as portas. Eu a visitara havia pouco e ficara encantado —250 mil livros (2.500 em braille) e 20 mil filmes, teatro, auditório, salas multiuso, espaço infantil, jardins, café, pátio, bicicletário. Fora inaugurada apenas dois anos antes como uma “biblioteca em movimento”, mas era, na verdade, sucessora de uma biblioteca criada em 1873 (desde 1943 na Presidente Vargas). Em 143 anos, nunca se vergara às crises que periodicamente assolam o Rio.
Mas o Rio ainda não conhecera uma devastação como a promovida pelo ex-governador Sérgio Cabral. Sem dinheiro para funcionários e manutenção, a Biblioteca Parque tivera de fechar, frustrando seus usuários, em sua maioria vindos do centro e da zona norte. Passou-se um ano e meio. Há meses, o pessoal do LER —Salão Carioca do Livro, um superevento literário— armou-se de parceiros e dispôs-se a realizar na biblioteca sua edição de 2018. E, ao abrir suas portas, o que encontrou?
Famílias acampadas, craqueiros, portas e janelas arrombadas, mato tomando os jardins, pisos quebrados, tábuas do chão levantadas, elevadores e ar condicionado avariados, infiltrações, goteiras, ratos, baratas, poeira, cheiro de urina. Incrível o estrago que 18 meses de abandono podem provocar.
E mais incrível ainda o que a vontade de servir, de salvar, de oferecer, pode produzir. Cada centímetro, do chão ao teto, foi restaurado. Os milhares que passaram pelo LER em quatro dias da semana passada não sabem o que se fez ali para tornar aquilo possível.
Findo o evento, o LER retirou-se, mas legou ao Estado um espaço em condições para que este reabra a Biblioteca Parque —o que ele promete fazer na próxima segunda (28). Ouvi dizer que o custo para mantê-la é de R$ 4 milhões por ano. Menos que o recheio de uma caixinha de joias da sra. Sérgio Cabral.
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