Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro
Descrição de chapéu

Nascimento de Garrincha

Sentado atrás do gol da URSS, o repórter presencia o parto

Garrincha (à esq.) durante a partida em que a seleção brasileira derrotou a da URSS por 2 a 0, na Suécia
Garrincha (à esq.) durante a partida em que a seleção brasileira derrotou a da URSS por 2 a 0, na Suécia - Acervo UH/Arquivo do Estado/Folhapress

Nesta sexta (15), às duas da tarde, serão 60 anos que a bola rolou em Gotemburgo, na Suécia, para Brasil e URSS pela Copa do Mundo de 1958. Passou-se então o seguinte:

“Didi centra rápido para a direita: 15 segundos. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov parte sobre ele. Garrincha faz que vai para a esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetzov cai: 25 segundos. Mais um drible: 30 segundos. Outro: 32 segundos. Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetzov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijvisk: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com o assento empinado para cima: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, sem ângulo. A bola explode na trave esquerda de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. 

“A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva, a bola faz a volta e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pelé. Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. Iashin tem a camisa empapada de suor. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. E a explosão vem com o gol de Vavá, aos três minutos”.

Essa maravilha de descrição é de autoria do repórter Ney Bianchi, enviado da “Manchete Esportiva” à Copa de 1958. Sentado atrás do gol da URSS, ele testemunhava a apresentação oficial de Garrincha ao mundo. 

Dez anos depois, em 1968, vejo-me ao lado de Ney Bianchi na reportagem da “Manchete”, na rua Frei Caneca. Perguntei: “Escute, Ney. Como você conseguiu acompanhar cada jogada e marcar os segundos no relógio e tomar nota ao mesmo tempo?”. Apesar disso, Ney tornou-se meu amigo e trabalhamos juntos por vários anos. 

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