Em toda Copa é assim: os jogadores fazem coisas nos anúncios de TV que não vemos nos jogos de verdade. Aqueles chutes explosivos, cambalhotas impossíveis e lances plásticos e espetaculares não acontecem em campo. Faz pensar que os jogos seriam melhores se os times fossem treinados pelos criadores de efeitos especiais das agências de propaganda, e não por mortais, por mais cheios de si, como Tite. O mesmo com os jogadores: treinar troca de passes, chutes a gol e disputa de divididas é importante, mas o corte de cabelo, a grife do terno e o quilate do brinco também são.
Um amigo meu nos anos 70 era o alemão Hans Henningsen, representante da Puma na América Latina. A Adidas já era a gigante do mercado, mas Hans conseguia com que os maiores, como Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer e, depois, Cruyff, Zico e Maradona usassem Puma, não Adidas. O pagamento eram uns caraminguás e quantos tênis e agasalhos eles pedissem para presentear os amigos. Hoje essas negociações movimentam bilhões.
Da mesma forma, a meta dos grandes craques deixou de ser uma loura, um carrão e uma casa na Barra ou o equivalente. Agora inclui contratos com grifes de roupas, sapatos e malas, além de acessórios como correntes, relógios e os headphones com que eles desembarcam dos ônibus, nem sempre tocando alguma coisa. Tudo gera dinheiro.
Os jogadores sempre se cercaram de amigos de infância, primos distantes e outros parasitas que levam para todo lado. Isso nunca mudará, mas hoje eles se cercam também do que chamam de “estafe”, de economistas para orientá-los sobre aplicações e advogados para negociar seus contratos até os personal hairdressers (o cabeleireiro de Neymar está na Rússia para cuidar de seus enxertos de sobrancelha e extensão de cílios).
Não há nada de mal em nada disso. Desde que essa doce vida civil se converta em gols e vitórias.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.