Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Receita de medo

Uma sociedade em que todos suspeitam de todos deixará de existir como país

Ruas, praças, praias e botequins fervem dia e noite no Rio
Ruas, praças, praias e botequins fervem dia e noite no Rio - Ricardo Borges - 11.out.17/Folhapress

Um panfleto atribuído a uma Polícia Militar —não diz de onde— circula pela grande lixeira chamada Facebook, alertando para o “tempo de guerra que atravessamos” e oferecendo “medidas cautelares” que nos ajudarão a chegar vivos ao outro lado da rua. Eis algumas.

“Evite sair de casa depois de dez da noite. Evite bares noturnos em lugares abertos. Passeios de preferência em shoppings. Ao sair de casa, olhe se não tem ninguém na rua. Ao se dirigir ao veículo estacionado, nunca vá diretamente a ele — observe em volta. Não demore no embarque e desembarque. No desembarque, cada um bate sua porta e o motorista tranca as portas no controle remoto. Ao parar num sinal, mantenha distância do veículo da frente, para que você possa ver os pneus traseiros —assim dá para sair rapidamente sem manobrar, se for preciso. 

“Quem tiver condições, compre um carro blindado. Transite somente por ruas movimentadas. Mantenha distância de duplas em motocicletas. Se perceber suspeitos, dê várias voltas antes de entrar com o carro na garagem. A pé, ao ouvir disparos, diminua a silhueta —deite-se ou abaixe-se imediatamente, de preferência ao lado de algo rígido, como uma mureta ou roda de carro. Quando for a um ambiente público, como padarias ou restaurantes, dê preferência aos que têm câmeras e segurança armada. Sempre suspeitar de tudo e de todos. Etc etc”. 

Não me consta que em Nova York, depois do 11/9, ou em Paris, Londres e Berlim, depois de seus recentes atentados, tenham circulado alertas tão covardes e paranoicos. Uma sociedade em que todos suspeitam de todos não merece existir como país.  

No Rio, que é uma das cidades mais conflagradas do Brasil, as ruas, praças, praias e os botequins com gente em pé e mesas na calçada fervem dia e noite. Incrível, é como se não tivessem medo. Não devem ter lido o tal alerta. 

Este colunista vai ali e volta no dia 3/10.

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