Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Promessa a Tito Madi

Ele tinha a sua música, e esta era o samba-canção

Há 30 anos, em 1988, quando comecei a apuração das informações para meu livro “Chega de Saudade”, sobre a bossa nova, uma das primeiras pessoas com quem conversei foi Tito Madi. Ele não tinha sido da bossa nova, mas, como cantor e compositor, fora fanaticamente admirado pelos rapazes que estavam criando o movimento. Um deles, Roberto Menescal, me disse que, ainda de menor, desviava garrafas de uísque de seu pai para subornar os porteiros das boates onde Tito se apresentava —para que o deixassem entrar.

Tito me contou que, de fato, fora convidado várias vezes pelos “meninos” —Menescal, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli— a comparecer ao apartamento de Nara Leão, em Copacabana, onde eles se reuniam. “Mas nunca fui”, explicou. “Eu tinha minha música, e esta era o samba-canção”. O que não o impediu de, em 1965, compor “Balanço Zona Sul” —“Balança toda pra andar/ Balança até pra falar/ Balança tanto/ Que já balançou meu coração...” —, que, gravado por Wilson Simonal, entraria direto para o repertório da bossa nova.

Tito Madi é a prova de que, ao contrário do que ainda se acredita, o samba-canção não foi um estágio preparatório para a bossa nova, que o teria superado e esmagado. Nos anos 70 e 80, quando ninguém mais por aqui queria saber de bossa nova, Tito prosseguiu sua carreira romântica e continuou a fazer sucesso com o samba-canção. Graças a ele e a outros, como Dick Farney, Silvio César, Jamelão, Márcia, Nana Caymmi e até Tom Jobim, o samba-canção se manteve vivo por todo aquele tempo. 

Quando “Chega de Saudade” foi publicado, em 1990, Tito me pediu: “Um dia, faça um livro como este, sobre o samba-canção”. Prometi que sim.

Tito morreu no dia 26 último, e gosto de saber que posso ter levado 25 anos, mas cumpri a promessa. Em 2015, pude presenteá-lo com “A Noite do Meu Bem”, meu livro sobre o samba-canção, do qual ele sai como um gigante.

Tito Madi em seu apartamento em Copacabana, em 2001
Tito Madi em seu apartamento em Copacabana, em 2001 - Antônio Gaudério - 8.jun.01/Folhapress
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