Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro
Descrição de chapéu Livros

Fim do mundo 'físico'

É possível que, um dia, pessoas 'físicas', como você e eu, deixem de existir

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Livraria no Rio, cheia de livros 'físicos', ou seja, normais
Livraria no Rio, cheia de livros 'físicos', ou seja, normais - Divulgação

Meu amigo Daniel Chomski, dono do sebo Berinjela, no subsolo do edifício Marquês de Herval, na avenida Rio Branco, surpreendeu-se outro dia usando uma expressão que, em anos de trato com livros, nunca lhe ocorrera pronunciar: “livro físico”. E caiu em si no ato: por que livro “físico” se, até então, todos os livros que haviam passado por suas mãos eram apenas livros —objetos físicos— e não havia motivo para aquele apêndice boboca? 

É claro que Daniel sabe a resposta e eu também. De algum tempo para cá, as pessoas têm falado de “livro físico” para diferenciá-lo do livro que, a poder de dois ou três cliques, sai de um lugar não sabido do ciberespaço e desembarca numa tabuleta eletrônica chamada, em português castiço, “tablet” —o e-book, ou livro eletrônico, que se lê mais com os dedos do que com os olhos. Considerando-se que o livro “físico”, de papel, existe há cerca de 1.500 anos, deveria ter o direito de continuar sendo apenas e somente livro, não? Mas não é o que acontece.

O mesmo está acontecendo com o CD, o “disco físico” —que, ironicamente, passou a se chamar assim em pleno processo de extinção física—, em contraposição à música que também sai de qualquer lugar e nos entra pelas orelhas quase sem depender de intermediário. 

E, idem, com o “filme físico”, o DVD, prestes a se tornar um objeto tão pré-histórico quanto uma mandíbula de pterodáctilo. 

Há pouco, vi pela primeira vez alguém pagando as compras com o celular num supermercado sem caixas. É quase certo que, em breve, as últimas moças que ainda conservarem seus empregos serão chamadas de “caixas físicas”. E o “dinheiro físico” também ameaça deixar de ser impresso, tal o número de pessoas que hoje paga até uma bala Juquinha com o cartão.  

Imagino que, um dia, as pessoas “físicas”, tipo você e eu, também deixaremos de existir. Mas isso é problema de vocês.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.