Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Coisas que pensamos que sabemos

Não, 'Presidente Bossa Nova' não era um elogio a JK

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Juscelino Kubitschek embarca no Rio rumo a Brasília, em 1960
Juscelino Kubitschek embarca no Rio rumo a Brasília, em 1960 - Folhapress

Um leitor, surpreso ao ler aqui (“O sertão da invenção”, 20/1) que Guimarães Rosa era um homem da cidade e tinha mínima vivência do sertão, me parou na rua: “Nunca podia imaginar. Rosa no sertão parecia tão natural!”. Mas gostou de saber que “Grande Sertão: Veredas” era muito mais um produto da genialidade do escritor do que simples observação e cópia da realidade. E concluiu: “É uma daquelas coisas que pensamos que sabemos, até descobrir que não é bem assim. E, como esta, deve haver outras”.

De fato, há. Eis algumas:

Frank Sinatra não era chamado de “Old Blue Eyes” —“Velho Olhos Azuis”. Essa expressão só apareceu como título de seu disco “Old Blue Eyes is Back”, de 1973. Nelson Rodrigues também não era chamado de “Anjo Pornográfico”. Embora tenha se definido assim, de passagem, em 1966, a expressão só ressurgiu como título de uma biografia sua, de 1992. E Garrincha nunca chamou um adversário de “João”. Isso foi uma invenção do repórter Sandro Moreyra, e que só fazia com que seus marcadores entrassem nele com mais violência —para não serem reduzidos a “Joões”.

Ao contrário do que se pensa, o apelido de “Presidente Bossa Nova”, dado a Juscelino Kubitschek por Juca Chaves numa canção, não era um elogio. Era uma crítica à obsessão de JK por aeronaves, que o fazia mandar parentes ao dentista de avião ou voar do Rio a Brasília só para ver a alvorada e voar de volta. A “bossa nova” do título também não se referia à música, mas a uma expressão comum na época, indicando uma novidade —uma “bossa” nova. 

E o samba “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil, não era bem uma homenagem ao Rio. Gil o compôs em 1969, ao sair da prisão da ditadura (em Realengo) e ir para o exílio em Londres. Era como se estivesse dando uma banana para o Rio e para o Brasil. As pessoas na época sentiam isso. Mas o Rio e o Brasil sabiam que não tinham culpa, e não se ofenderam.

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