Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

Na cabeça do mandante

Imagens de Marielle Franco tomaram as ruas do Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ato na praça Oswaldo Cruz, em São Paulo, em memória a Marielle Franco e ao motorista Anderson, no dia em que a morte dos dois completou um ano
Ato na praça Oswaldo Cruz, em São Paulo, em memória a Marielle Franco e ao motorista Anderson, no dia em que a morte dos dois completou um ano - Júlia Zaremba/Folhapress

No dia 14 último, quem andou pelas ruas do Rio viu-se cercado de imagens de Marielle Franco. Seu rosto estava em cartazes, faixas, camisetas, buttons, num boneco gigante e nas vozes de multidões na Candelária, na Cinelândia e no local onde ela foi morta há um ano, no Estácio, com seu motorista Anderson Gomes. Cenas parecidas aconteceram em São Paulo, Belo Horizonte, Lisboa, Buenos Aires. Rádios passaram o dia cobrindo as manifestações, amplificando as vozes de políticos, advogados, religiosos, estudantes e ativistas, todos empenhados numa nova pergunta: “Quem mandou matar Marielle?”.

Com a prisão de Ronnie Lessa e de seu esbirro, Élcio Queiroz, e a reconstrução do meticuloso planejamento para o crime, fica desautorizada de vez a versão do crime “de ódio” contra uma mulher negra e homossexual —que eles mal conheciam e de quem nunca ouviram um discurso como vereadora. Fica evidente que houve um mandante, para quem a eliminação de Marielle seria um aviso, um sinal de seu poder. É contra este que se dirigem agora as investigações.

Esse mandante continua solto. Eu me pergunto o que estará achando da onipresença de Marielle e do que ela passou a representar na vida do país. Ele não esperava por tamanha avalanche. Por causa desta, nos últimos meses, já foi obrigado a mover peões e torres em tabuleiros oficiais para amarrar a busca de indícios que levariam a ele. Significa que, nesses canais, conhece-se sua identidade.

Agora, a prisão de Lessa e Queiroz precipitou tudo. Seu nome está na boca dos homens que ele contratou, instruiu e pagou para matar por ele. E se, para um deles ou ambos, não houver compromissos de honra? 
Até há pouco, eu imaginava este homem seguro em seu anonimato, testando seu sangue frio e até se misturando nas ruas com os manifestantes por Marielle. Mas não mais. Ele deve estar assustado. E pode ser que já nem esteja no Brasil.
 

Erramos: o texto foi alterado

A morte de Marielle Franco completou um ano no dia 14 deste mês, não no dia 15, como foi incorretamente dito em versão anterior deste texto.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.