Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

Legado incomparável

Da selva aos laboratórios do Museu Nacional, graças a Roquette-Pinto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Há dias (1º/7), escrevi sobre o egoísmo da elite brasileira, com seu desprezo pelo Museu Nacional. Mas, ao generalizar, omiti um nome que contribuiu como poucos para o museu e até o presidiu: Edgard Roquette-Pinto (1884-1954). Ninguém mais elite do que ele, descendente de várias linhagens antigas e ilustres. E ninguém mais pronto a se dar pela ciência.

Em 1906, aos 22 anos, Roquette já fora ao sul do país, em busca dos sambaquis —jazidas de conchas, ossos e utensílios dos habitantes da América pré-histórica. Voltou de lá com precioso material, que entregou ao Museu Nacional. Mas, em 1912, ao juntar-se ao coronel Candido Rondon numa expedição ao Mato Grosso, Amazonas, Acre, Pará e Guaporé, Roquette iria à própria pré-história —em busca de tribos indígenas que, em pleno século 20, supunha-se ainda na idade da pedra.

Edgard Roquette-Pinto, durante instalação da Rádio Escola Municipal no Rio
Edgard Roquette-Pinto, durante instalação da Rádio Escola Municipal no Rio - Reprodução RadioBR

Nesta viagem, Roquette foi etnógrafo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, linguista, médico, farmacêutico, legista, fotógrafo. Depois de meses na selva, desbravando um Brasil inédito, expostos a flechadas, armadilhas, insetos, doenças e morte, eles contataram os nhambiquaras. Os machados dos nativos eram de pedra não polida. Suas facas, lascas de madeira. Comiam da mão para a mão, dormiam no chão e eram cobertos de bernes, pulgas e piolhos. Nunca tinham visto um homem branco ou negro.

Roquette estudou-os, desenhou-os, gravou seus sons e curou-os do que pôde. Graças a ele e a Rondon, nunca um encontro entre o “selvagem” e o “civilizado” seria tão suave e humano. De volta ao Rio, Roquette doou ao Museu Nacional uma tonelada de pedras, pontas de flechas e material que, pelos 106 anos seguintes —até o incêndio—, seriam importante objeto de estudo. Para ele próprio, só trouxe o impaludismo, que o acompanharia pela vida.

Ah, sim, houve outro membro da elite a quem devemos o museu —dom Pedro 2º. 

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.