Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Um outro 14 de julho

Nos 150 anos da Revolução Francesa, tudo ia bem para a marquesa

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Paris sempre foi uma festa no dia 14 de julho, mas o de 1939 foi especial. Eram os 150 anos da Revolução. Por toda parte, debates, conferências, bailes, shows patrióticos, desfiles militares. As cores nacionais, bleu-blanc-rouge, pendiam das sacadas em cartazes, bandeiras, estandartes, lençóis e até ceroulas. As pessoas dançavam nas ruas, vestidas de Robespierre ou de Maria Antonieta, segundo a preferência. Os tataranetos dos guilhotinados confraternizavam com os tataranetos de seus carrascos.

Enquanto isso, a Europa estava toda olhos e ouvidos. Em março, Hitler tomara a Tchecoslováquia. Dias depois, era o fim da Guerra Civil espanhola, com a vitória de Franco e o massacre dos republicanos. Na Páscoa, a Itália de Mussolini invadira a Albânia. Na própria Paris, o Quartier Latin fervia de refugiados espanhóis, tchecos, turcos, romenos e judeus. Tudo parecia conduzir à guerra. A qual, se viesse, teria a França bem no centro do tabuleiro. 

Mas, pelo menos naquele 14 de julho e nas duas semanas anteriores, Paris queria fazer de conta que estava tudo bem —como na letra da música “Tout Va Très Bien, Madame La Marquise”, em que a marquesa, em viagem, telefona a seus criados para saber como estão as coisas e eles lhe dizem que está tudo muito bem, exceto que o jumento de madame morreu, devido a um incêndio no estábulo, provocado pelo marquês, o qual, ao se descobrir falido e se suicidar, botara fogo sem querer no castelo. Era uma canção de 1935, por Paul Misraki, gravada pela orquestra de Ray Ventura, que, aliás, se refugiaria no Rio durante a Ocupação.

Pois é. Pouco depois do 14 de julho, em agosto, Stalin trairia o mundo assinando um pacto de não agressão com Hitler. Este invadiria a Polônia, a Inglaterra declararia guerra à Alemanha e, em junho do ano seguinte, 1940, os alemães ocupariam Paris.

Bom que o 14 de julho deste ano está mais tranquilo.

 

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