Sempre que morre um cineasta italiano —De Sica, Visconti, Fellini, Antonioni, Germi, Monicelli, Bolognini—, os cinéfilos guardam interiormente minutos de silêncio, em respeito a esses homens que nos fizeram rir ou chorar da condição humana durante décadas. Tendemos a pensar neles como os únicos autores de seus filmes, esquecendo-nos de que o cinema é uma colaboração e que nem tudo que vemos na tela sai da cabeça do diretor.
Por exemplo, quem fazia Marcello Mastroianni preferir colarinhos mais longos ou mais curtos em “O Belo Antônio” (1959), de Bolognini, e “A Noite” (1961), de Antonioni? Quem sugeriu o suéter preto com gola em V que fazia Alain Delon imediatamente visível em “Rocco e seus Irmãos” (1960), de Visconti? Não que isso não tivesse importância. Por causa de seus filmes entre 1955 e 1965, os italianos eram talvez o povo mais influente do planeta em matéria de colarinhos, gravatas, óculos escuros, suéteres e carros. E quem vestia os atores que trabalhavam neles? Os figurinistas, claro. Dos quais talvez o mais importante fosse Piero Tosi.
Uma das especialidades de Tosi era Claudia Cardinale. Ele a vestiu em “O Belo Antônio”, “Rocco”, “Caminho Amargo” (1961), de Bolognini, e “O Leopardo” (1962), de Visconti, e quanto mais roupas lhe botava em cima mais provocava o espectador. E é um erro pensar que superespetáculos, como “O Leopardo”, mostrem mais a arte do figurinista. Em “Os Companheiros” (1963), de Monicelli, passado no meio proletário de Turim no fim do século 19, Tosi dá um show de casacos puídos, calças surradas e ceroulas suadas, embora vestidos por Mastroianni ou Renato Salvatori.
“As roupas são a pele do personagem”, ele dizia. Isso deve explicar a excelência de seu trabalho. Tosi morreu em Roma há alguns dias, aos 92 anos. Era, como tantos, um órfão do cinema italiano —que, este, sim, também já se foi faz tempo.
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