Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Cenas de morte

Muitas das maiores sequências do cinema têm a ver com a morte

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Ouço dizer que os corredores da alta cultura têm se ocupado com a discussão sobre se a sequência da morte de Mufasa, pai do herói do desenho “O Rei Leão”, em cartaz, é mais eficaz do que a da mãe de Bambi em, idem, “Bambi” (1942). A do leão, pisoteado por milhares de cascos e ainda caindo de um despenhadeiro, é mostrada em detalhes. A da corça não se vê. Nem precisa. Ouve-se um tiro, e só. É clássica.

A morte sempre foi importante para o cinema. Muitas das maiores sequências da história têm a ver com ela. A de “King Kong” (1933), em que o macaco, metralhado pelos aviões, despenca do edifício Empire State. A de “Sabotador” (1942), de Hitchcock, em que Robert Cummings tenta salvar o nazista Norman Lloyd de cair da estátua da Liberdade, segurando-o pelo paletó, mas os pontos da roupa vão se desfazendo. A espetacular morte de Anna Magnani em “Roma, Cidade Aberta” (1945), em que ela é fuzilada ao correr para seu marido. 

A da velhinha na cadeira de rodas, que Richard Widmark, com uma diabólica risadinha, faz rolar da escada em “Beijo da Morte” (1947). A de James Cagney, no alto do gasômetro em chamas, em “Fúria Sanguinária” (1949), gritando: “Olha só, mamãe! Estou no topo do mundo!”. E qual diretor começaria uma comédia com uma chacina? Só Billy Wilder, em “Quanto Mais Quente, Melhor” (1959). 

Adoro a morte de Jean-Paul Belmondo em “Acossado” (1959), caído na rua depois de levar vários tiros pelas costas e soltando a última baforada do cigarro. E a de Janet Leigh, no chuveiro, em “Psicose” (1960). Já a falsa morte do ET em “E.T.” (1982) é só uma das costumeiras trapaças sentimentais de Steven Spielberg. 

Quanto ao leão morto que “volta” para o filho numa nuvem no final de “O Rei Leão” é um recurso manjado. Começou com Jeanette MacDonald e Nelson Eddy, que, depois de mortos em “Primavera” (1937), “ressuscitam” na nuvem, cantando “Ah, Sweet Mystery of Life”.

Rei leão
Mufasa volta para Simba numa nuvem no final de “O Rei Leão” - Divulgação

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