Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Coquetelaria bossa nova

O que Tom, Vinicius, Baden, João Gilberto e outros gostavam de beber -ou não

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Hotéis, restaurantes e bares de luxo do Rio prometem uma atração para este verão: a Coquetelaria Bossa Nova. Consiste de drinques e coquetéis com combinações insólitas, criadas por bartenders cheios de truques e triques. Há uma caipirinha com infusão de louro em cachaça de bálsamo. Há um gim com, idem, infusão de abacaxi grelhado e chá verde com arroz torrado. E há um single smoke com uísque defumado e também infusionado com amoras. 

Ao ler isso, perguntei-me o que a turma original da bossa nova acharia de tanta infusão e amoras. Tom Jobim, por exemplo, até os 30 anos dedicou-se à cerveja e ao chope. Já o poeta e diplomata Vinicius de Moraes era um homem do uísque, que ele chamava de melhor amigo do homem --"O uísque é o cachorro engarrafado", dizia. Quando eles se conheceram, em 1956, Tom se deixou converter por Vinicius à seita do malte. Mas nunca dispensou o chope e a cerveja. Apenas acrescentou o uísque à sua dieta. 

Outro parceiro de Vinicius, Baden Powell, era decididamente fã da Escócia. Decididamente até demais. Os cerca de 30 sambas que eles fizeram juntos, entre os quais "Apelo" e "Berimbau", devem ter-lhes custado um navio de uísque. Newton Mendonça, parceiro de Tom em "Desafinado" e "Samba de uma Nota Só", morreu fiel ao conhaque Georges Aubert. E Ronaldo Bôscoli, letrista de "O Barquinho", ainda tomava nos anos 70 um drinque típico dos anos 50: cuba libre --rum com Coca-Cola. Devia ser o último homem na Terra a tomar cuba libre. 

Em compensação, o álcool nunca disse nada a Carlinhos Lyra, Nara Leão, Marcos Valle e menos ainda a Roberto Menescal, devoto do milk shake e demais derivados do leite. E João Gilberto, como se sabe, só beberia alguma coisa se ela viesse enrolada em papel de seda. 

A bossa nova, em matéria de coquetelaria, era básica. Produziu apenas grande música.

Vinícius de Moraes com seu 'cachorro engarrafado', em 1975 - Acervo UH/Folhapress

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