A morte de Thereza de Orléans e Bragança, que o Brasil conheceu como Thereza de Souza Campos, foi notícia até no New York Times. Nos anos 50, ela formou com um operador bem relacionado nos bancos, Didu de Souza Campos, o casal talvez mais famoso do país. Eram tempos em que o chamado soçaite vivia na imprensa com seus jantares, roupas e viagens, vistos sem rancor e com indiferença pelos pensantes e com deslumbramento pelos demais.
Os obituários falaram carinhosamente de Thereza e disseram, claro, que sua morte foi o fim de uma era. E todos mencionaram a gravação por Jorge Veiga, em 1955, do samba de Miguel Gustavo, “Café Soçaite”, que a tinha como personagem.
Vários citaram a letra: “Doutor de anedota e de champanhota/ Estou acontecendo no café soçaite/ Só digo enchanté, muito merci, all right/ Troquei a luz do dia pela luz da Light./ Agora estou somente contra a Dama de Preto/ Nos dez mais elegantes eu estou também/ Adoro Riverside, só pesco em Cabo Frio/ Decididamente eu sou gente bem.// Enquanto a plebe rude na cidade dorme/ Eu ando com Jacinto que é também de Thormes/ Terezas e Dolores falam bem de mim/ Eu sou até citado na coluna do Ibrahim.// E quando alguém pergunta como é que pode/ Papai de black tie jantando com Didu/ Eu peço outro uísque embora esteja pronto/ Como é que pode? Depois eu conto...”
Metade da letra hoje exige tradução. “Champanhota” era uma reunião chique. A Dama de Preto, uma socialite antipática inventada por Ibrahim Sued. Riverside, um condomínio de luxo. “Gente bem” eram os colunáveis. Jacinto de Thormes, pseudônimo do colunista Maneco Muller. Tereza era a Souza Campos e Dolores, Dolores Sherwood, mulher de Jorginho Guinle. “Papai”, gíria da época significando a própria pessoa. “Estar pronto”, estar duro. E “depois eu conto”, um jeito de insinuar sem contar.
Era uma bela gozação, mas que o soçaite sabia ser real.
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