Em coluna recente (5/10), falei de um colégio em Palo Alto, nos EUA, que ousou convidar o pianista Thelonious Monk, em meio a uma temporada numa cidade próxima, a dar uma esticada até lá e tocar para eles —e Monk, um dos sacerdotes do jazz, aceitou. No fim, lamentei que, no Brasil, mais músicos não tivessem sido convidados a dar shows para estudantes, porque eles teriam aceitado. Vários leitores escreveram citando artistas que se apresentaram em suas escolas e o que isso representou para eles.
Mas nada supera a consequência de um show, em meados de 1958, num velho casarão da rua Fernando Osório, no Flamengo. Ali ficava o Grupo Universitário Hebraico, uma modesta associação de estudantes presidida pelo arquiteto Zeca Levinson e dirigida pelo jornalista Moysés Fuks. O grupo já tinha recebido palestras de luminares como Millôr Fernandes, Vinicius de Moraes e ninguém menos que Manuel Bandeira, levados por Levinson. Mas o que passaria à história seriam os jovens convidados por Fuks, que já os conhecia, para apresentar um novo tipo de música que estavam fazendo nos apartamentos de Copacabana.
Entre outros, eles eram os compositores, violonistas e cantores Carlos Lyra, Roberto Menescal, Normando Santos, Oscar Castro Neves, Chico Feitosa e Nara Leão, com Luiz Eça no piano, Bebeto Castilho no sax-alto, Henrique no contrabaixo e Mario na bateria. Exceto Eça e Menescal, todos amadores. Famosa, só a cantora Sylvia Telles, amiga deles.
A qual era o destaque na tabuleta escrita a giz, ditada por Fuks a uma secretária: “Hoje – Sylvia Telles e um grupo bossa nova”. Não “de bossa nova”, porque esta ainda não se chamava assim. Só “bossa nova”, porque diferente, moderno —era o que a expressão significava.
O show não foi gravado e poucas fotos se tiraram. Mas a nova música empolgou a plateia. E o nome, nascido naquela noite mágica, como se sabe, pegou.
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