No último domingo (8), falei da surpresa da escritora brasileira Carolina Nabuco, em 1940, ao assistir ao filme “Rebecca, a Mulher Inesquecível”, de Hitchcock, e ver atribuída à inglesa Daphne du Maurier a trama do seu romance “A Sucessora”, de 1934. Em ambos, uma mulher insegura se casa com um viúvo rico e arrogante, cuja primeira mulher —a “inesquecível”— parece onipresente na casa, esmagando a sucessora. Seguiam-se dezenas de semelhanças entre os dois livros.
Carolina submetera o manuscrito em inglês a um agente ligado à editora de Daphne em Londres. Esta gostou do enredo e apoderou-se dele, ampliando-o, mas descuidou-se na camuflagem. O plágio ficou claro, e Carolina Nabuco só não meteu um processo porque era uma mulher fina e discreta. E não precisava do dinheiro.
Já acontecera antes. Em 1929, Alvaro Moreyra viu a plateia carioca vibrar com a peça “Topaze”, do francês Marcel Pagnol. Era a mesma trama e a mesma e pioneira técnica antinarrativa de sua peça “Adão, Eva e Outros Membros da Família”, levada no seu próprio Teatro de Brinquedo em 1928. Coincidência? Não. O texto completo de “Adão, Eva...” saíra originalmente na revista “Para Todos...”, em 1925, num Rio cheio de franceses que liam em português. Por que não chegaria a Pagnol em Paris?
Os mesmos franceses podem ter levado ao compositor Louis Guglielmi a melodia do samba “Amar a uma Só Mulher”, de Sinhô, sucesso de Francisco Alves em 1928, e dali resultou “La Vie en Rose”, que imortalizou Edith Piaf em 1947. Em 1979, em “Da Ya Think I’m Sexy”, Rod Stewart tungou “acidentalmente” o teteretê de Jorge Ben em “Taj Mahal”, de 1972. Em 2002, o querido Moacyr Scliar viu seu romance “Max e os Felinos” assinado pelo canadense Yann Martell no premiado “A Vida de Pi”. Etc.
Às vezes, nós também fomos buscar inspiração lá fora, não? O século 20 era meio promíscuo nessas coisas.
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