Um longo e sentido muuu ecoou pelo país nesta quinta-feira (22) enquanto Jair Bolsonaro lia seu discurso na Cúpula do Clima. O bramido, de origem indiscutivelmente bovina, pode ter sido provocado por um súbito desconcerto quanto à fala de Bolsonaro. Pois não é que, contrariando seu público, o mito adotou um discurso ecológico, globalista, atento às ilegalidades e tisnado por metas politicamente corretas? Foi para isso que o elegeram? Para dizer um texto que poderia ter sido lido por FHC, Lula, Dilma e Temer?
Análise mais acurada revelou, todavia, que o muuu em uníssono veio da Amazônia, emitido pela famosa boiada tangida pelo ministro do Contrambiente Ricardo Salles. Essa boiada, ao contrário do que se pensa, não é composta de búfalos, zebus e demais vacuns. Ao dizer, naquela reunião ministerial de 2020, que era preciso "aproveitar a Covid para passar a boiada", Salles se referia aos desmatadores, grileiros, mineradores, pecuaristas, praticantes de queimadas, assassinos de preservacionistas e sabotadores dos órgãos de fiscalização, cujos interesses defende.
Eles se assustaram com o discurso de Bolsonaro. Sabem que foi um embuste, mas, pelo fato de ele o ter pronunciado oficialmente, os organismos internacionais dispõem agora de uma base de controle. A partir de hoje, cada novo índio morto, árvore derrubada ou mico carbonizado adiará o dinheiro que Bolsonaro, de quatro, esmolou em nome do Brasil aos governos estrangeiros.
Bolsonaro acha que pode mentir para o mundo como faz para nós. Não lhe ocorre que cada palavra que ejacula é anotada, traduzida e analisada pelos consulados e transmitida aos seus países. Têm profissionais para isso.
O cerimonial desses consulados sabe, por exemplo, que Bolsonaro coça o saco diante de senhoras, palita os dentes à mesa e tira ouro do nariz. Mas esses são os menores motivos pelos quais ele lhes inspira asco.
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