Se você for um baterista australiano de rock ou desenhista de homem-aranha da Marvel, pode morrer sossegado. No futuro, seu centenário será festejado no Brasil em quantas primeiras páginas lhe forem devidas. Mas, se você for um sambista brasileiro, cujo apogeu se deu nos plúmbeos anos 50, pré-bossa nova, torça para que, um dia, alguém se lembre de que você também nasceu há 100 anos e que seus sambas já foram a trilha sonora do país.
Refiro-me ao carioca Luiz Antonio (1921-96), cujo centenário, no dia 16, passou batido. E não por falta de motivos para lembrá-lo. Dependendo do parceiro —Djalma Ferreira, Jota Jr., Luiz Bandeira, Brasinha—, Luiz Antonio fazia música ou letra. Sozinho, ambas. Tudo excepcional e gravado pelos grandes. Exemplos?
Para o Carnaval, “Sapato de Pobre” (“Sapato de pobre é tamanco...”), 1951, e “Lata d’água” (“Lata d’água na cabeça/ Lá vai Maria...”), 1952, por Marlene; e “Sassaricando” (“Sá-sassaricando/ Todo mundo leva a vida no arame...”), 1952, por Virginia Lane.
A linha romântica: “Somos Dois” (”Somos dois, começo de vida...”), 1948, por Dick Farney; “Cheiro de Saudade” (“É aquele cheiro de saudade/ Que me traz você a cada instante...”), 1959, por Lucio Alves; “Lamento” (“Ai, só você não vê...”), 1959, “Recado” (“Você errou/ Quando olhou pra mim...”), 1959, ”Mulher de Trinta” (“Você, mulher/ Que já viveu...”), 1960, “Poema do Adeus” (“Então, eu fiz um bem/ Dos males que passei...”), 1961, e “Devaneio” (“Era a saudade do passado...”), 1961, todos por Miltinho.
E os sambas épicos, heroicos? “Apito no samba” (“Se você/ Num samba de gente bem...”), 1958, por Marlene; “Levanta, Mangueira” (“Levanta, Mangueira/ A poeira do chão...”), 1959, por Djalma Ferreira; e “Quero Morrer no Carnaval” (“Quero morrer no Carnaval/ Na avenida Central, sambando...”), 1960, por Linda Baptista.
Muita gente boa daria um braço para ter feito tudo isso.
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