Com perdão pelo dilúvio de adjetivos e imagens passadistas, aqui vão trechos do discurso de um estudante do Centro Acadêmico 11 de Agosto, em São Paulo, em 1919, em torno de uma árvore ali plantada anos antes por Rui Barbosa:
“Senhores! A palavra de Rui é um derramamento irresistível de águas fecundas. A árvore da liberdade, ele a vem plantando, num desperdício de sementeiras e numa multiplicação de milagres em a terra bruta da Pátria. Ele a viu rebentar com o 13 de Maio, estrelar-se das primeiras flores com o 15 de Novembro e, agora, abençoa-a por vê-la murmurante de promessas, frondejante de sombras boas, carregada de mágicos fluidos, em todos nós que cremos, que gritamos, que aclamamos.
“No entanto, para que, com suas infinitas radículas, perdidas no seio movediço das populações, a árvore não se biparta às injúrias deste tempo calamitoso de vendavais apocalípticos, urge uma solidariedade imperativa em torno do ideal patriótico que ela representa. Não se explica, senhores, senão por um delírio de preconceitos, a agastada querela que vai entre os extremistas de Lênin e os extremistas de Romanoff, nesse torrão farto do cruzeiro.
“De um lado, cães de cabeleiras apostróficas a movimentarem turbas de opiniatras contra a ordem conservadora. Precisamos do mesmo heroísmo de vontades para passar sem catástrofes a era demoníaca dos bolchevismos. Tenhamos fé, Deus protege o Brasil. É sobre esta árvore, que substitui a deixada aqui pelas mãos de Rui, mãos que se fecham para rezar, que escrevem cânticos à Providência, hão de cair novas pentecostes de milagres e de bênçãos!”.
O autor dessa verbosa e carola ode ao velho Rui? Oswald de Andrade, a menos de três anos da Semana de Arte Moderna —movimento, no fundo, criado para modernizar o próprio Oswald e seus amigos, os então parnasianíssimos Mario de Andrade, Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia.
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