Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Hermínio entre amigos

O responsável por um grande passado da música popular faz 70 anos de trabalho, sem futuro à vista

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Hermínio Bello de Carvalho mora dentro de uma caixa de surpresas. Ao abrir casualmente um armário ou gaveta em seu apartamento, em Botafogo, descobre uma partitura de Pixinguinha, um poema de Drummond, um desenho de Oscar Niemeyer, uma letra de samba de Tom Jobim, um bilhete de Elizeth Cardoso, uma carta de Sidney Miller, tudo à mão, dirigido a ele, com amorosas dedicatórias. Ou pode encontrar a certidão de casamento de Zica e Cartola, de que foi, aliás, padrinho. Ou se lembrar de que a xícara em que toma café lhe foi dada por Aracy de Almeida.

Nada de mais nisso. Eram apenas seus amigos, pessoas para quem Herminio criou grandes discos, programas de TV e shows, tudo às dezenas, ou com quem tomou muitos chopes pela vida. Shows? Um deles, “Rosa de Ouro”, em 1966, revelou Clementina de Jesus, ressuscitou Aracy Cortes e consagrou Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Dali resultou o LP “Elizeth Sobe o Morro”, produzido por ele e talvez o melhor dela. E de onde saiu o Hermínio poeta, parceiro de Paulinho em “Sei lá, Mangueira”, de Elton em “Pressentimento”, de Mauricio Tapajós em “Mudando de Conversa”?

Uma coisa foi levando à outra sem ele perceber até que, outro dia, Hermínio se deu conta de que tudo começou há 70 anos. E só porque achou um recorte da revista Rádio-Entrevista, datado de 1951 e assinado “Hermínio B. de Carvalho” —sua primeira colaboração na imprensa. Ele tinha 16 anos. Pouco depois, estava subindo a serra com Linda Baptista para visitar Getulio Vargas no Palácio Rio Negro, sendo convidado a um drinque com Ava Gardner no Hotel Glória e saindo numa foto com Carmen Miranda na boate Sacha’s. Nunca mais parou.

Parou, sim. Com a crise que já vem de anos e pelas trevas que nos envolvem hoje em dia, Hermínio está com mil projetos parados ou em sonho.

Ele já fez muita coisa sem dinheiro. Sem amor, não. E os dois estão em falta no Brasil.

 Recorte da revista Radio-Entrevista, caricatura de Hermínio por Nássara, cartão-convite de Ava Gardner e encarte e CD do show Rosa de Ouro e disco de Aurea Martins produzido por ele
Recorte da revista Radio-Entrevista, caricatura de Hermínio por Nássara, cartão-convite de Ava Gardner e encarte e CD do show Rosa de Ouro e disco de Aurea Martins produzido por ele - Heloisa Seixas

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