Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Muita merda para passar o pano

Bolsonaro pode trocar a eleição pela blindagem do centrão, mas precisa combinar com a Justiça

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Jair Bolsonaro declarou outro dia que o futuro só lhe reservava três opções, lembra-se? A prisão, a morte ou a vitória. A primeira ele descartou: "Eu não vou ser preso". A segunda delegou ao imponderável: "Só a morte me tira daqui". Restou-lhe a vitória, que ele via como inevitável, fosse através da fraude dos votos impressos ou de um golpe. O golpe broxou, como sabemos, e as pesquisas apontam que até um poste o derrotará no segundo turno. Ciente disso, o centrão, seu sócio no poder, cogita oferecer-lhe uma saída: renunciar à disputa presidencial, em troca de blindagem no Congresso contra o que o espera fora do Planalto —a cadeia.

Mas, supondo que Bolsonaro aceite trocar a disputa pela proteção, como o centrão combinará isso com a Justiça? As investigações já foram longe demais, e logo Bolsonaro poderá se abanar com um leque de acusações: crimes contra a administração, a paz e a saúde públicas, de responsabilidade, contra a humanidade, corrupção passiva e prevaricação. Até para Arthur Lira é muita merda para passar o pano. E, sem Bolsonaro no poder, seus OOs terão de responder por disparos de fake news, desvio de dinheiro público, funcionários fantasmas, descaradas transações imobiliárias, lavagem de dinheiro e tráfico de influência —por enquanto.

O centrão não é suicida. Seu programa admite tudo exceto perder eleições, e a perspectiva do momento é a de morrer abraçado a Bolsonaro. Como isso é impensável, trata-se só de escolher quando deixá-lo pendurado na, perdão, ouvintes, brocha. Na verdade, a decisão de disputar ou não a eleição não caberá a Bolsonaro, mas ao centrão —que espera apenas a definição pelas pesquisas de um novo nome a apoiar.

Como Bolsonaro não explicou sua convicção sobre a prisão ou a morte, talvez estivesse condicionando uma à outra: não será preso porque morrerá antes.

Não queira saber como. Qualquer das hipóteses será um longo feriado.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI), do centrão, ao assumir o cargo de ministro-chefe da Casa Civil - Pedro Ladeira - 4.ago.2021/Folhapress

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