Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Oh, não, de novo a Semana

Em seu Centenário, a oportunidade para apurar os fatos, desfazer lendas e corrigir equívocos

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Oh, não, mais uma crônica sobre a Semana de Arte Moderna! Aos que têm estranhado meu interesse pelo assunto, informo que estou só me antecipando humildemente aos eventos oficiais que logo nos inundarão sobre a dita Semana, a fazer cem anos em fevereiro. Em comemoração a esse centenário, espera-se um tsunami de livros, exposições, documentários, concertos, shows, peças, festivais, performances, happenings, leituras, recitais, cursos, seminários, oficinas e, não duvido, uma vibrante versão da Semana pelo Holiday on Ice.

Apoio com fervor esse oba-oba. É uma oportunidade para, a exemplo do que se dará com o também próximo Bicentenário da Independência, apurar os fatos, desfazer lendas e corrigir equívocos. Dos quais, talvez por desinformação, há vários exemplos.

Um deles, a ideia de que a poesia Pau Brasil, a Antropofagia e o "Macunaíma" fizeram parte da Semana. Não, não fizeram —em 1922, os modernistas ainda nem sonhavam com isso. Algumas das atrações da Semana, ao contrário, foram o discurso de abertura por Graça Aranha, que quase levou as galerias ao rigor mortis, um concerto da chopiniana Guiomar Novaes, uma exposição de pintura a que ninguém deu bola e a declamação de um romance passadista por Oswald de Andrade e de poemas rurais por Menotti Del Picchia. Para acordar a plateia, Oswald e Menotti contrataram amigos para vaiar —veja o livro de memórias de Menotti, "A Longa Viagem", 1972.

Uma frustração foi o Monumento às Bandeiras, por Brecheret, pautado pelos modernistas em homenagem a Fernão Dias, Anhanguera e Borba Gato. Por vários motivos, ficou na maquete e só foi construído em 1954. Mas é uma legítima obra dos jovens da Semana.

Aliás, nem tão jovens. Em 1922, Mario de Andrade já tinha 29 anos; Menotti, 30; Guilherme de Almeida, 31; Anita Malfatti e Oswald, 32. Villa-Lobos, 34; e o líder da turma, Graça Aranha, 53. Jovem mesmo, com 20, só o garoto Plínio Salgado.

Monumento às Bandeiras, de Brecheret, projeto da Semana de Arte Moderna de 1922 - Zanone Fraissat - 12.jun.2020/Folhapress

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