"Um coito de dois minutos é mais que o suficiente para que um marido insemine sua esposa. A partir daí é tudo vício, perversão e socialismo". Atenção para as aspas. Essa frase entrou no meu email sem ser solicitada e assinada por uma pessoa fora do meu círculo —uma pastora que ficará anônima, exceto por seu codinome, Soldada de Cristo.

Tomado de choque, tive de me recobrar para poder analisá-la. A pastora, imagino, pertence à facção dos que só admitem o sexo para fins de reprodução. É um pensamento respeitável, mas pouco prático. Pressupõe que um casal só fará sexo uma vez a cada nove meses, o que significa que em, digamos, 30 anos de casamento, eles o terão praticado 40 vezes. Não será pouco entre duas pessoas que se amam? Sem falar que, já que em todas o marido inseminará a mulher, a heróica senhora terá 40 filhos durante o casamento. Pode isso, Arnaldo?

Temo que a proposta da pastora nos equipare aos animais. Eles é que têm como cláusula pétrea o sexo para fins apenas reprodutivos. Mas, e se o homem só tiver chegado à alma imortal por usar o sexo também para fins recreativos? Há ainda o problema dos dois minutos para fazer tudo. A pastora não explica se, antes do ato em si, permitem-se uma ou duas horas de preliminares. Bem, supondo que tudo tenha de caber em dois minutos, os únicos aptos a copular serão os acometidos de ejaculação precoce. E, como há pessoas para quem dois minutos são até demais, pergunta-se: os que estão nesse caso poderão acumular os segundos de crédito tendo em vista um coito extra?

Mas o que mais me preocupa é a frase "A partir daí [dos dois minutos] tudo é vício, perversão e socialismo". Pois lamento informar à pastora que temos em nosso meio um repulsivo praticante de todas essas perversões.

Um sujeito chamado Jair Bolsonaro, que já confessou ter usado seu apartamento funcional em Brasília, pago com nosso dinheiro, "para comer gente". Bleargh.