Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Ria disso, Bolsonaro

O deboche da família Gargalhada contra o relatório da CPI é só uma bravata para a galera

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Flavio Bolsonaro proclamou alegremente que seu pai, Jair Bolsonaro, deve ter reagido às acusações da CPI da Covid com uma gargalhada. Reproduziu a dita gargalhada para as câmeras e acrescentou: "Não tem o que fazer diferente disso". Quis dizer que Jair "Gargalhada" não está nem aí para as tremendas acusações —talvez porque conte com seu engavetamento pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, escolhido por ele à la carte para o cargo e mantido pelo cabresto sob a possibilidade de nomeá-lo para o STF.

Durante séculos, a Justiça no Brasil enxergou-se com respeito e assim foi tratada. Nomes como Diogo Feijó, Nabuco de Araújo, Clovis Bevilacqua, Pontes de Miranda e Evandro Lins e Silva serão sempre pronunciados com reverência. Ninguém exigirá que Augusto Aras se lhes compare, mas ele ainda tem uma chance de escolher entre passar à história ao lado de Raquel Dodge ou como um Geraldo Brindeiro 2.0.

O deboche com que a família Gargalhada trata a Justiça não tem precedente no Brasil nem se limita a ela. Seus ministros e asseclas também riem das decisões judiciais que os atingem e as descumprem com público descaramento, certos de que, se um deles for preso, surgirá uma toga amiga para livrá-lo.

O deboche contra a CPI da Covid, no entanto, é só uma bravata para a galera. Sabendo que o relatório contém fatos e números suficientes para mandar todos os bolsonaros e dezenas de bolsonaretes para a grade, a "rede do ódio" já saiu a campo com as ofensas e ameaças. Em vão, porque elas não apagam o passivo das 604 mil mortes pela pandemia, a revolta dos parentes e amigos desses mortos (ponha aí milhões de pessoas) e os outros milhões que se salvaram, mas terão de conviver com as sequelas da doença até o fim.

Talvez isso explique os 77% de referências negativas a Bolsonaro nas redes sociais apenas no dia da leitura do relatório —e tal número é só o começo. Ria disso, Bolsonaro.

Flavio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters

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