Um coelho chamado Alfredo foi impedido há dias de embarcar com seus donos num avião da KLM em Guarulhos, rumo a Dublin, na Irlanda. O pessoal do balcão brandia o regulamento pelo qual coelhos, ao contrário de cães e gatos, não podem viajar na cabine, só no compartimento de carga.
Os funcionários não sabiam que os donos de Alfredo, um casal de Minas Gerais, tinham autorização judicial para entrar com ele. Seguiu-se um, sem trocadilho, grande bode no saguão, com gritos e agressões. Só Alfredo não se alterou. No dia seguinte, a autorização valeu, ele viajou e Dublin o recebeu. Neste momento, deve estar na Martello Tower, farejando vestígios da última passagem de James Joyce por lá.
Várias lições sairão do episódio. Pelo escrito, os coelhos não podiam viajar na cabine por serem roedores. Mas sabe-se agora que roedores são os ratos e os preás. Os coelhos são lagomorfos, e a lei é omissa sobre lagomorfos. Com isso, firma-se a jurisprudência: nunca mais um coelho poderá ser impedido de viajar na janelinha se quiser. Os coelhos deixam também de ser considerados animais de segunda classe e passam a ser reconhecidos como membros da família —de uma família multiespécie, claro.
Posso imaginar os milhares de seguidores com que Alfredo já conta na internet. E, se você acha ridículo alguém seguir um coelho, pense em certas celebridades atuais que têm milhões de seguidores. O que as torna melhores do que Alfredo? Nosso herói já tem pelo menos uma história de luta para contar, vitoriosa e inspiradora.
Eu só aconselharia Alfredo a não perder muito tempo com Joyce em Dublin —para quase todo mundo, o culto a "Ulisses" é só um pretexto para usar chapéu de palhinha e beber. E o que não faltam por lá são gênios: Bernard Shaw, Oscar Wilde, W.B. Yeats e dois fabulosos vampirólogos, Sheridan le Fanu, autor de "Carmilla" (1872), e Bram Stoker, pai de ninguém menos que o querido Conde Drácula.
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