Leitores da coluna desta quinta-feira (4) perguntaram por que afirmei que, já certo de perder em 2022, Jair Bolsonaro partirá para o tudo ou nada. Porque me parece o óbvio ululante. Um presidente em busca da reeleição e com chances de vitória cumpre certos rituais de campanha, como atender diligentemente o seu eleitorado, tentar conquistar o dos adversários, viajar pelo país, cortejar prefeitos e governadores, lutar por seu partido político e cavar um amplo apoio no Congresso. Mas, exceto pelo primeiro item, Bolsonaro não faz nada disso.
Sua aversão aos adeptos da concorrência é olímpica. Afronta diariamente mulheres, gays, negros, idosos, cientistas, estudantes, artistas, consumidores de cultura e muitos outros que, em conjunto, formam um gigantesco eleitorado. Seu asco pelos 600 mil mortos pela pandemia se soma ao desprezo pelos cônjuges, filhos e irmãos das vítimas, que são milhões, e pelos outros milhões que se revoltam com a sua crueldade. Bolsonaro dá a entender que dispensa esses votos.
Suas viagens limitam-se a surtos episódicos, como ao Nordeste —região que abomina— e a certas cidades estratégicas para motociatas de ocasião. Sua guerra aos governadores e prefeitos esnoba as montanhas de votos cativos desses profissionais do Executivo. E é sintomático que, a um ano das eleições, ele ainda não esteja filiado a um partido, sem o qual não poderá concorrer.
Em contrapartida, Bolsonaro dedica-se a subornar generais, adoçar a boca de coronéis, hipnotizar cadetes e prestigiar soldados, PMs e bombeiros para combater por ele, além de infiltrar esbirros nos desvãos da Justiça para se garantir contra processos. É uma receita de golpe, cuja cereja do bolo estaria nas suas milícias, que, à senha das redes sociais, partiriam contra as instituições.
Sim, a 7 de setembro ele tentou desmoralizar as eleições e fracassou. Mas e se aquilo tiver sido só um balão de ensaio?
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