Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro
Descrição de chapéu forças armadas

Contar votos ou canhões

Canhões são uma metáfora, mas não muito longe da realidade. Quem vai sair da frente para o outro atirar?

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A familiaridade com que discutimos se haverá ou não um golpe no Brasil, antes, durante ou depois das eleições, é quase inédita. Em 1964, deu-se um golpe sob o pretexto de que o outro lado —o governo— estava preparando o seu, embora, como se constatou, ele não tivesse nenhuma condição para isso. Os vitoriosos não precisaram disparar um tiro. Agora, não. A ameaça vem de quem não apenas detém o comando efetivo da força como está há anos atiçando e munindo uma força paralela para agir a seu favor.

Munir é sinônimo de municiar, prover munição, armar. É ao que assistimos todos os dias com as medidas de Jair Bolsonaro para facilitar a vida de quem queira ter em casa armamento pesado. O pretexto é o de que são caçadores ou colecionadores. Mas, no primeiro caso, pelo calibre e quantidade de armas que possuem, são capazes de matar um elefante a quinhentos metros ou derrubar um helicóptero que se atreva a sobrevoá-los. Se são colecionadores, como se explica que tenham dezenas de exemplares de um mesmo tipo de arma, e de um tipo recém-saído da fábrica, sem valor de coleção, mas bem cotado no mercado clandestino?

Tudo isso se sabe. Sai nos jornais, dá na televisão, discute-se no botequim, com uma naturalidade só reservada ao noticiário esportivo ou de variedades. Sob Bolsonaro, o brasileiro pode não ter saúde, escola ou emprego, mas conta com notável poder de fogo. Já é um dos países com o maior número de civis engatilhados no mundo. E ninguém duvida de que tal equipamento se destina a fuzilar as instituições.

A depender de Bolsonaro, haverá uma hora em que, depois de contar os votos, se terá de contar canhões. Canhões são uma metáfora, mas não muito longe da realidade. Os que legalmente têm direito a eles —as Forças Armadas— precisarão sair da frente para que os milicianos disparem? Ou irão atuar em conjunto?

Ou, depois de ler a Constituição, elas cumprirão seu papel?

O presidente Jair Bolsonaro durante assinatura de decreto presidencial que flexibiliza regras para atiradores esportivos, caçadores e colecionadores de armas
O presidente Jair Bolsonaro durante assinatura de decreto presidencial que flexibiliza regras para atiradores esportivos, caçadores e colecionadores de armas - Pedro Ladeira - 7.mai.19/Folhapress

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