Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

500 mil influenciadores

Nem tudo que eles vendem é ração de cachorro ou formato de sobrancelha

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Reportagem de Daniele Madureira na Folha (29/5) me informa que, segundo uma multinacional de pesquisa, o Brasil tem 500 mil influenciadores. Quase tanto quanto médicos (502 mil), mais que engenheiros civis (455 mil), muito mais que dentistas (374 mil) e mais do dobro que arquitetos (212 mil). De onde saíram e quem são? Há tempos ouço falar em influenciadores, mas, como não frequento redes sociais, nunca soube o que eram. Consultei as bases e descobri que são pessoas irresistíveis, que levam milhões de outras a adotar seus estilos de vida, preferências e aptidões.

No passado, já fui influenciado por muitos escritores e jornalistas. Admirava seu jeito de pensar, escrever, viver e queria ser como eles. Os grandes influenciadores de hoje não são tanto da área do pensamento, mas da moda, da tecnologia, do celebritismo. No fundo é a mesma coisa: seus seguidores querem ser como eles.

Como? Explicaram-me. Cristiano Ronaldo, digamos, tem 517 milhões de seguidores. Como não podem se tornar novos Cristianos Ronaldos, esses 517 milhões usam seu gel, copiam sua sobrancelha, adotam sua dieta de macarrão com granola e isso faz girar muito dinheiro. Ah, entendi. E é verdade que alguns dos hoje principais influenciadores do mundo são cachorros? Sim, responderam —não para ensinar seus seguidores a arfar, rolar no chão e pegar bolas, mas a comprar a ração, os brinquedos e roupinhas desses cachorros para seus próprios cachorros.

Então para isso servem os influenciadores, digo, influencers, em português —para vender produtos e serviços. Bem, menos mal. É só mais um ramo da publicidade.

Mas há influenciadores que operam também na área do pensamento. São os que usam esses canais para vender o ódio, a mentira, jogar irmãos contra irmãos, cupinizar a democracia e promover a morte. As instituições ainda não aprenderam a lidar com eles. E, quando for tarde demais, já não fará diferença.

O jogador português Cristiano Ronaldo, que tem mais de 500 milhões de seguidores - Marcelo Del Pozo/Reuters

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