O grande comediante é aquele que, à simples menção de seu nome, as pessoas riem. É como se sua capacidade de nos divertir e fazer felizes, mesmo que por uma hora e meia, nem se discutisse. Todos os povos têm e tiveram os seus: Carlitos, Os Três Patetas, Oscarito, o mexicano Cantinflas, o italiano Totó, o português Raul Solnado, Jerry Lewis, Chico Anysio, Jô Soares, Woody Allen, muitos mais. Ninguém os supera, mas o procurador-geral da República Augusto Aras merece ser lembrado.
Sempre que o apresentador de televisão descreve mais um crime de Jair Bolsonaro —quebra de decoro, abuso de poder, racismo, homofobia, mentir, atentado contra a Constituição, incitação à violência, genocídio, corrupção—, ouvimos que caberá a Aras apreciar a acusação e decidir se autoriza a investigação. Ao escutar isto, os milhões de brasileiros que assistem ao jornal explodem numa risada. Infelizmente, ela não é provocada por uma pirueta do cômico, uma frase de efeito ou sua fachada de seriedade enquanto o cenário desaba. Mas a risada desses milhões também não é de prazer. É de sarcasmo.
Sabem que o procurador-geral ficará em silêncio pelos dias seguintes e, depois de pensar no caso, mandará arquivá-lo por falta de motivos. Bolsonaro sairá assobiando como sempre e os jovens brasileiros saberão mais uma vez que, aqui, pode-se fazer o que se quiser. E, no entanto, o procurador terá exercido todas as qualidades que admiramos naqueles artistas: a pirueta impossível, a frase de efeito e a expressão impassível enquanto o país desaba.
No momento em que escrevo, às 12 horas de quinta-feira (21), ele estará completando 84 horas de silêncio desde que Bolsonaro usou um espaço da República e seu aparato oficial para acapachar a Nação (ou seja, reduzi-la a capacho) diante da representação estrangeira. Se a Aras for dada a incumbência de apreciar o caso, não tenha dúvida.
Ele o apreciará muito.
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