Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Presidente demente

O que Castello, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo achariam de Bolsonaro?

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Quando os militares tomaram o poder, em 1964, eu tinha 16 anos. Quando foram obrigados a devolvê-lo aos civis, em 1985, 37. Nesses 21 anos, quase todos como jornalista, soube bem o que era trabalhar e viver ao peso de Castello Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, os generais escolhidos pela cúpula militar e "eleitos" presidentes por um Congresso emasculado. Esse rodízio no poder era para mostrar que não havia ditadura no Brasil. De fato, não havia um ditador como o Getulio Vargas de 1937-1945. Na prática, era a mesma coisa, mudando apenas certos traços de personalidade e comportamento de cada general.

Castello se achava um intelectual. Ia ao teatro e visitava o elenco no camarim. Ofereceu o MEC a Gilberto Freyre e Rachel de Queiroz, que o recusaram. Costa e Silva orgulhava-se de saber mais matemática do que Chico Buarque. Pode ter sido forçado a assinar o AI-5. O gremista Médici ia ao Maracanã com radinho de pilha, mas seu período foi o mais asfixiante e sangrento. Geisel, de cara amarrada e engessado num paletó-saco, enfrentou e esmagou a linha-dura. Figueiredo engrossava com quem o contrariasse e se deu mal no episódio da bomba no Riocentro, que não soube administrar, mas abriu o regime.

Todos eram igualmente detestáveis, mas eles tinham um projeto para o Brasil: o do desenvolvimento a qualquer preço. Para isso, cercavam-se de cérebros poderosos: Roberto Campos, Eugenio Gudin, Otavio Gouveia de Bulhões, Delfim Netto, Mario Henrique Simonsen. Um dos assuntos que mais se discutiam na ditadura era a economia.

Eu me pergunto o que Castello, Costa, Médici, Geisel e Figueiredo estariam achando do Brasil de hoje, despachado para o século 13 por um presidente demente e sua mulher, candidata a chefe de uma facção religiosa medieval.

Talvez os militares que fazem parte deste governo possam responder.

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