Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa

Tabata é de direita?

Ela é social-democrata, como FHC e Bachelet; o campo popular e progressista é anticapitalista

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A esquerda que votou contra a reforma da Previdência, aprovada na Câmara e atualmente em tramitação no Senado, considera que a deputada Tabata Amaral, do PDT de São Paulo, é de direita. Tabata se considera de esquerda. Quem tem razão?

Se empregarmos o critério de demarcação do cientista político Norberto Bobbio, para quem estar à esquerda do espectro ideológico significa abrir mão de crescimento para reduzir a desigualdade, 
Tabata é de esquerda.

Tabata não tem problemas com carga tributária elevada ou com a agenda de elevação da progressividade dos impostos —isto é, com medidas em que os mais ricos paguem proporcionalmente mais do que os mais pobres.

Tem como prioridade em seu mandato ações que elevem a qualidade do sistema público de educação básica do país.

Pelo critério de Norberto Bobbio, o governo FHC foi de esquerda, e, de fato, foi um governo que esteve à esquerda dos governos de Michelle Bachelet no Chile, por exemplo.

Para se convencer de que FHC foi de esquerda pelo critério de Bobbio, basta lembrar que, em seu governo, a carga tributária cresceu, o gasto social aumentou mais rapidamente do que a economia e o valor real do salário mínimo elevou-se pouco menos do que a alta nos oito anos do governo Lula.

Por que então Tabata e o governo FHC são de direita para os partidos autoclassificados como “pertencentes ao campo popular e progressista”?

Não é fácil responder a essa pergunta com algum rigor. Parece-me que a diferença se encontra na aceitação ou não da economia de mercado, com propriedade privada dos meios de produção, como o mecanismo regulador da produção e distribuição dos bens e serviços.

O “campo popular e progressista” é, em última instância, socialista.

Penso que esse apego ao ideário socialista, mesmo que sem muita consciência, segue da particular forma pela qual eles entendem o funcionamento da economia.

Para o “campo popular e progressista”, país rico ficou rico pois explorou de alguma forma os países pobres ou periféricos. Trata-se do imperialismo, tema caro ao “campo popular e progressista”.

Analogamente, os baixos salários não estão associados à baixa produtividade do trabalhador, mas sim a uma relação de exploração que o proprietário dos meios de produção estabelece com o empregado.

Esse é um dos motivos de o “campo popular e progressista” ter sempre dificuldade de encontrar qualquer relação entre escolaridade e produtividade e entre produtividade e renda.

O que separa Tabata do “campo popular e progressista” é a aceitação por ela dos mecanismos de operação de uma economia de mercado e o entendimento de que a correção das injustiças e da 
desigualdade se faz com Estado e políticas públicas em geral.

O critério de Bobbio é normativo, isto é, está ligado a um juízo de valor sobre como distribuir os resultados da atividade econômica. As pessoas concordam sobre o funcionamento da economia e discordam na gradação entre eficiência e equidade.

A distância de Tabata do “campo popular e progressista” é de natureza positiva —está ligada não a uma preferência distributiva, mas sim a uma discordância quanto ao funcionamento da economia.

Tabata é social-democrata, como FHC e Bachelet. O “campo popular e progressista” é anticapitalista. Sempre que ficarem muitos anos no poder, o resultado será algum tipo de desorganização da economia, como ocorreu por aqui entre 2006 e 2014, ou mesmo o colapso, como ocorre na Venezuela hoje.

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