Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa

A esperança de Ciro fica a dever

Falta de profundidade em analise do pedetista impede diagnóstico para nos tirar da armadilha da renda média

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As eleições americanas passaram. Logo as nossas passarão e em fevereiro teremos a eleição da mesa diretora das duas casas legislativas. Após esses eventos entrará no horizonte da política a sucessão presidencial de 2022.

Há dois meses o PT apresentou seu plano, que discuti neste espaço na coluna de 26 de setembro. No fim do ano passado, Arminio Fraga apresentou seu diagnóstico em artigo publicado na revista Novos Estudos do Cebrap, fascículo 3 do volume 38.

No livro “Projeto Nacional: o dever da esperança”, recentemente publicado, Ciro Gomes faz seu diagnóstico do desenvolvimento brasileiro do início do século 20 até hoje. Em seguida apresenta o conjunto de medidas e políticas que considera necessárias para reverter o quadro de estagnação que vivenciamos desde os anos 80.

A análise histórica de Ciro é uma sucessão de maniqueísmos. Quase tudo para Ciro acaba virando uma luta entre o bem e o mal.

Assim, a República Velha era o mal. Getúlio Vargas e o nacional desenvolvimentismo, o bem. A ditadura militar, o mal. FHC, o mal, com seu rentismo e os juros para banqueiros. Lula e Dilma eram o bem, apesar de erros aqui e acolá. O imperialismo é o mal que nos condena à pobreza, e a tradição política representada pelo trabalhismo o bem que nos desenvolveu e promoveu nosso Estado de bem-estar.

Sabemos de estudos recentes que a República Velha, em função de uma série de mudanças institucionais, várias implantadas no final do Império, teve impacto no desenvolvimento do mercado financeiro para o investimento produtivo. Também foi período de desenvolvimento das ferrovias. Há estudos recentes que comprovam o efeito que elas tiveram para o crescimento na República Velha e no período subsequente.

Por sua vez, a fase do nacional desenvolvimentismo é essencial para entendermos o atraso educacional –ao longo de todo o período, investíamos 1,5% do PIB em educação fundamental–, gerando enormes dificuldades para o crescimento na etapa seguinte.

É comum o argumento de Ciro terminar em algum tipo de conspiração do capitalismo internacional ou dos banqueiros. É estranho análise tão chapada vinda de um político experimentado e pessoa que demonstra ser inteligente.

Para Ciro, o esgotamento do crescimento do período petista essencialmente foi produzido porque Dilma aceitou a chantagem do mercado financeiro e subiu juros para combater a inflação produzida pelo choque de oferta (inflação do tomate) de março de 2013. Ciro não percebe que havia inúmeros sinais, vários anteriores a 2013, de que a política econômica era não sustentável desde 2007-2008.

No campo das ações, há propostas para elevar a carga tributária em três pontos percentuais do PIB, tributando melhor os ricos, e uma série de políticas de estímulo a alguns setores.

No período petista, entre 2007 e 2014, houve enorme e genuíno esforço de desenvolver alguns setores. Os programas deram todos com os burros n’água. Sem um minucioso diagnóstico dos motivos de a iniciativa no período petista ter dado errado, difícil imaginar que Ciro faria melhor.

Certamente a corrupção não foi o maior problema do intervencionismo petista. Todo o diagnóstico e a implantação estavam errados.

A falta de profundidade com que Ciro analisa o esgotamento da economia ao longo da última hegemonia política que tivemos por aqui impede que ele tenha um diagnóstico que faça sentido para nos tirar da armadilha da renda média, na qual estamos desde a década de 1980.

Preparei um longo comentário ao livro de Ciro no Blog do Ibre.

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