Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa
Descrição de chapéu juros copom inflação

Não ficarei surpreso se EUA acelerarem ritmo de alta dos juros

Processo inflacionário americano dá mostras de criar vida própria

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Na semana que passou, o banco central dos Estados Unidos, Federal Reserve, ou, simplesmente Fed, decidiu iniciar o processo de aumento dos juros. Elevou a taxa de um intervalo de zero a 0,25% para entre 0,25% e 0,50%.

Tudo indica que a alta da taxa de juros continuará pelas sete reuniões restantes neste ano e por outras tantas no próximo.

Os juros sobem pois a inflação está bem alta por lá. O IPCA deles fechou fevereiro em 7,9% em 12 meses. Nos últimos três meses, a inflação rodou a 8,3%, já anualizando a taxa. Ou seja, há pressão inflacionária adicional.

Fachada do Fed, em Washington - Saul Loeb/AFP

As medidas de inflação menos sensíveis aos diversos choques de preços que têm ocorrido há pelo menos sete trimestres também indicam inflação muito forte. Essas medidas menos sensíveis a choques são chamadas de núcleos. Os diversos núcleos têm rodado entre 4,5% e 6,5%. Quando consideramos os últimos três meses, os números variam de 6% a 7%, ou seja, superiores aos números em 12 meses, o que sinaliza maiores pressões inflacionárias à frente.

Serviços, excluindo os de energia, rodam a 4,4% em 12 meses, também acima da meta de 2%.

Os números do mercado de trabalho têm surpreendido para melhor. Nos últimos 12 meses, foram criados pouco menos de 7,5 milhões de empregos. Se nos próximos meses o ritmo se mantiver, em uns oito meses, aproximadamente, o mercado de trabalho estará tão apertado quanto estava em fevereiro de 2020, logo antes de a epidemia do coronavírus atingir os Estados Unidos. Era opinião generalizada que naquele ponto havia pleno emprego.

Outros indicadores apresentam um mercado de trabalho também bastante forte. Por exemplo, para cada trabalhador procurando um emprego, há 1,7 vaga de trabalho "à procura" de um trabalhador.

Como afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell, "esse é um mercado de trabalho muito, muito apertado, em um nível insalubre".

Se é verdade que a inflação subiu em razão de um conjunto incrível de choques de oferta que atingem os Estados Unidos —e também o Brasil— há sete trimestres, a difusão do processo inflacionário e a elevada inflação de serviços e dos núcleos, em associação com o mercado de trabalho sem folga, são sinais de que o processo inflacionário adquire alguma inércia.

Os salários têm subido, apesar de ainda não conseguirem acompanhar a inflação. Não obstante, a melhor medida para salários, construída pelo Fed de Atlanta, sugere que eles já sobem a 6,5%, com grande aceleração na margem.

Inicia-se, mesmo que lentamente, um processo de espiral preços e salários.

Segundo as projeções da diretoria do Fed, ainda é possível um cenário de pouso suave da inflação. Isto é, que a reversão do choque e uma elevação leve da taxa de juros até a neutra sejam suficientes para aterrissar a economia em 2024 com inflação na meta, pleno emprego e crescimento próximo ao potencial.

Penso que as chances de um pouso suaves são pequenas. O processo inflacionário dá mostras de criar vida própria.

Foi perguntado a Jerome Powell, no fim de sua entrevista coletiva, após o anúncio da decisão do comitê de política monetária —Fomc na sigla em inglês—, se considerava que o Fed estava atrasado no ciclo monetário. Ele respondeu que, se lá atrás soubesse que as coisas transcorreriam da forma como transcorreram, os juros seriam hoje bem maiores.

Não ficarei surpreso se houver aceleração no ritmo de alta dos juros nos Estados Unidos.

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