Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa

O Brasil nos últimos 40 anos

Produtividade do trabalho cresceu a um ritmo de apenas 0,6% ao ano

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Na coluna de 14 de maio, apresentei o desempenho da economia brasileira nos últimos 120 anos, desde 1900. Esta coluna complementa aquela. Olharei com mais detalhe nossos últimos 40 anos, de 1981 até 2021.

A tabela apresenta a taxa média de crescimento da economia e da produtividade do trabalho para os diversos períodos dos últimos 40 anos. Os dados são do Observatório da Produtividade do FGV Ibre. O primeiro ano de cada um dos intervalos de tempo é o ano base a partir do qual as taxas de variação foram calculadas.

O produto da economia é dado pelo valor adicionado total —exclui, portanto, impostos indiretos pagos pelas empresas. A produtividade do trabalho é dada pelo produto por hora trabalhada.

Nosso desempenho foi medíocre. Como a última linha da tabela documenta, o crescimento médio da economia foi de 2,2% ao ano e o da produtividade do trabalho de baixíssimo 0,6% ao ano. Uma hora trabalhada no Brasil produzia, em 1981, R$ 27,5 e, em 2021, R$ 35,1, sempre a preços de 2019.

Rua comercial em São Paulo - Nelson Almeida - 4.mar.2022/AFP

Ou seja, por mês, um trabalhador na média produzia R$ 4.758 em 1981 e R$ 6.086 em 2021, um crescimento de 28% ou 0,6% ao ano. A renda anual per capita e por trabalhador foi em 1981 de respectivamente R$ 21.522 e R$ 62.476, e de R$ 29.921 e R$ 69.911 em 2021.

A economia brasileira amarga enorme mediocridade. Nesse mesmo período, a produtividade do trabalho para a economia americana cresceu ao ritmo de 2% ao ano.

O único período relativamente bom foi o de 2006 até 2013, que eu chamei de intervencionismo. Há para mim uma grande dificuldade. Considero que a política econômica nesse período foi de pior qualidade. Como lido com esse fato?

Penso ser importante considerar os legados, as condições de contorno e as heranças. O período foi antecedido por longo processo de arrumação de casa macroeconômica e de construção institucional, o período que chamei de estabilização e liberalização. Essa é a herança.

Por outro lado, o grosso do superciclo de commodities ocorreu de 2006 a 2013. Vale lembrar que, no período logo em seguida da grande crise financeira global de 2008, acentuou-se ainda mais o boom das commodities, em função da recuperação da China ter sido muito mais rápida do que a do resto do mundo. Essa foi a condição de contorno.

Finalmente, o período do intervencionismo deixou um pesado legado para o período posterior: nos três anos de nossa grande crise, caímos 1,9% anualmente e a produtividade do trabalho regrediu 1% por ano.

O leitor deve ter notado que, no biênio da pandemia, 2020-2021, o crescimento da produtividade foi relativamente bom, de 1,4% ao ano. Esse fato deve ser revertido quando tivermos os números fechados de 2022.

Em 2022, com a reabertura da economia e a normalização dos setores de menor produtividade, a produtividade do trabalho da economia deve cair.

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