Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Descrição de chapéu

O que os clubes querem de Natal?

Times não pensam muito diferente das crianças com pouca grana nesta época

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Quem nunca desejou um presente de Natal na infância que era impossível de ganhar? Bem, talvez os filhos de Cristiano Ronaldo, Neymar, Messi e outros abastados… E bom para eles. Mas quem teve uma origem mais humilde sabe como é querer e não poder.

Meu desejo de infância era um carrinho de controle remoto chamado Pegasus. Tinha o série ouro e o série prata. Como eu era mais modesto, queria o prata mesmo. Mas nunca cheguei perto —não porque meus pais não queriam dar, mas porque não podiam. Ganhei uma ambulância "bate e volta" —ou era carro de bombeiros?

Hoje sou pai, e minha filha de 6 anos pediu no Natal algo que viu na loja, uma espécie de bolsa de plástico em formato de cabeça de unicórnio. Não sei o que tem dentro, nem ela… talvez uma vila de pequenos unicórnios. A bolsa-brinquedo-cabeça custa em torno de R$ 900, o que significa que Papai Noel vai ter que se virar com outra coisa —Catarina vai me perdoar.

O lateral Rafinha vai defender o São Paulo em 2022 após ser rebaixado com o Grêmio
O lateral Rafinha vai defender o São Paulo em 2022 após ser rebaixado com o Grêmio - Diego Vara - 6.nov.21/Reuters

Os clubes de futebol não pensam muito diferente das crianças com pouca grana na época do Natal.

Boa parte do noticiário esportivo nesta época do ano, sem jogos no Brasil, se debruça sobre o chamado "mercado da bola", com um pouco de informação e muito de especulação. Mas o curioso é olhar o comportamento dos clubes nas "não negociações". É como se os jogadores-objetos de desejo se dividissem em duas categorias: carrinho de bate e volta e Pegasus série ouro.

O Vasco fez um projeto (não uma proposta) por Diego Souza, que não deve permanecer no Grêmio para jogar a Série B após o rebaixamento. O salário é alto, ou seja, Pegasus. Mas um dirigente disse que "conta com o carinho da torcida nas redes" para ajudar a convencer o jogador. Ou seja, só tem dinheiro para o "bate e volta".

Já o Fluminense parou de vender seus craques do time sub-Fraldinha para começar a investir em jogadores mais veteranos, e não necessariamente baratos, como Willian Bigode e Felipe Melo (ambos ex-Palmeiras). Depois disseram que estavam em conversas avançadas com Ricardo Goulart, que jogava na China — "conversas avançadas" é um termo futebolístico que não significa absolutamente nada. É mais ou menos como se eu dissesse à minha filha que estou em conversas avançadas com a cabeça de unicórnio. A notícia mais nova da novela é que Goulart está estudando outras propostas.

E ainda apareceu a história de que ofereceram o português Nani (ex-Manchester United), que joga na Europa há 450 anos, para o time do Rio. E o Fluminense se "assustou" com os valores do moço que ganhava em euros. Jura?

Mas o melhor é o São Paulo, clube que já foi modelo de gestão nos anos 2000. Contratou o lateral direito Rafinha, que não é barato (mais um ex-Grêmio rebaixado), enquanto ainda paga (ou não paga?) dívida milionária para o lateral direito Daniel Alves. Dizem que a diretoria está atrás de Douglas Costa, jogador também caríssimo que terminou a temporada no mesmo Grêmio, brigando com a torcida nas redes sociais e no campo. Não é curioso como um clube consegue ir atrás de dois dos maiores salários da equipe que foi rebaixada?

E tem mais: o time do Morumbi também sondou Wesley, atacante do Aston Villa que hoje tem salário em LIBRAS. Bom plano. Enquanto isso, o elegante Hernán Crespo ameaça ir à Fifa por pendência financeira com o clube.

Enfim, o problema dos clubes neste Natal é o mesmo de algumas crianças: só podem ganhar uma ambulância bate e volta, e olhe lá, mas sonham com o Pegasus série ouro… ou a cabeça de unicórnio.

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