Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Deixar Djocovid jogar seria uma derrota clara do esporte

Tenista pode deixar de conquistar o sonhado recorde de grand slams por levar um match point de sua própria estupidez

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Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic estão empatados com o recorde de grand slams na ATP, 20 para cada um. A partir de 17 de janeiro, começa o Australian Open, chance para alguém se isolar na liderança.

Discussão de quem foi o melhor dos três à parte (foi o Federer), quem ESTÁ melhor é Novak Djokovic. Disparado. Teve um 2021 brilhante, derrubou até Nadal em Roland Garros. E era o favorito para chegar primeiro ao 21º slam.

Mas o tenista sérvio é antivacina. Já ganhou o singelo apelido nas redes de Djocovid. E mesmo assim, aparentemente, a organização do torneio deixaria ele jogar sem tomar o imunizante —uma deferência ao número 1, e uma derrota clara do esporte.

Tenista sérvio Novak Djokovic no aeroporto de Melbourne, na Austrália - via REUTERS - 5.jan.22

Porém, o governo australiano, em decisão coerente, proibiu o tenista de entrar no país. Ou seja, Djocovid pode deixar de conquistar o sonhado recorde por levar um match point de sua própria estupidez —Nadal, vacinado, curiosamente se recupera de uma infecção de Covid, e o quarentão Federer continua em voltas com contusões.

Se Djocovid conseguir juridicamente reverter a situação e disputar o torneio, contará com minha torcida contra em todos os jogos.

Infelizmente, porém, o caso de Djocovid não é isolado. Tem muitos esportistas com muito dinheiro e poucos neurônios que se recusam a tomar a vacina. Nos esportes americanos, o número de infectados aumenta a cada semana. Na NFL, já há quem diga que o campeão do Super Bowl, em fevereiro, será o time que administrar melhor o número de infectados no elenco.

O ponto é que ninguém mais quer jogo sem torcida. Dane-se o aumento do número de casos. O ótimo exemplo da bolha da NBA em 2020 ficou para trás. Agora, a liga de basquete está flexibilizando regras, e não vacinados estão podendo entrar em quadra, como Kyrie Irving, do Brooklyn Nets.

Seja na NFL, seja na NBA, parece que a preocupação com as grandes aglomerações ficou no passado. Talvez a notícia da baixa letalidade da variante ômicron seja o suficiente para que ninguém se atente a um dos principais ingredientes do "showtime": o torcedor. Não observaram que "baixa letalidade" significa "letalidade".

No futebol a história não é muito diferente, mesmo em lugares mais civilizados —no país em que Flamengo e Vasco queriam a volta imediata da torcida mesmo com milhares de infecção por dia, não vale a pena nem começar a falar.

O primeiro indício de que algo estava podre no reino da Uefa veio já na distante Eurocopa. Insistir em disputar a competição em mais de dez cidades —ao contrário de contê-la em uma ou duas— nunca pareceu uma ideia inteligente. Delegações viajavam para lá e para cá, por países que tinham regras diferentes na contenção da Covid. Se na Escócia o estádio tinha lotação parcial, na Hungria ele ficava abarrotado de gente.

A Inglaterra chegou a insinuar que a final poderia ter público reduzido. Diante da notícia, a Uefa ameaçou tirar a final do país se eles não lotassem Wembley com 100% de sua capacidade. E lotaram.

Na virada do ano, com a ômicron aterrorizando o continente europeu, vários times ingleses enfrentaram surtos de Covid e cerca de 20 partidas da Premier League tiveram que ser remarcadas —aliás, curioso como sempre que um time europeu tem casos de Covid, tem brasileiro envolvido; talvez sejamos mais sensíveis ao vírus. Mas e a torcida? Lotando o estádio, semana após semana. Outro dia vi um jogador celebrando o gol abraçando os torcedores e fiquei apavorado com a possibilidade de contaminação.

Na Alemanha —os alemães são mais espertos— partidas voltaram a ser disputadas de portões fechados, incluindo jogos da Champions League, como Bayern x Barcelona. Se fosse possível, gostaria que um time alemão ganhasse a Champions… e o Alemão, o Inglês, a NBA e o Brasileiro.

Somando as modalidades, o esporte está levando uma surra da pandemia, com gols de diferentes variantes. É um 7 a 1 todo dia —mas aqui o gol da derrota é alemão.

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