Estão abertos os trabalhos para a seleção brasileira no ano da Copa do Mundo no Qatar, a ser jogada no fim deste ano. Tite fez nesta quinta sua primeira convocação em 2022 —e a primeira entrevista coletiva—, e fica claro que a chance de novos nomes surgirem é cada vez menor, para não dizer nula.
"Não tem caixinha fechada", disse Tite, no melhor estilo professor de cursinho, querendo afirmar que todo o mundo ainda tem chance. Mas, então… não tem, não.
Em uma convocação para jogos contra Equador e Paraguai —que só valem para Equador e Paraguai—, a grande "surpresa" foi a volta de Daniel Alves para a lateral, depois de reestrear há cerca de dez dias no Barcelona.
Para manter suas coerências, Tite às vezes faz comentários incoerentes. Gosta de dizer que o momento é determinante, mas, se futebol é momento, não é o momento de Dani Alves —ainda que ele possa ser a melhor opção até o fim do ano, diante da baixa concorrência na posição.
E, se não é o momento de Dani Alves, o que dizer de Philippe Coutinho? Ninguém tem sido tão "oportunizado" quanto Coutinho, e faz tempo —"oportunizar" é um dos verbos preferidos da comissão técnica, o que explica por que Sylvinho, que trabalhou com Tite e agora está no Corinthians, também tem mania de "oportunizar".
Tite sabe tudo o que pequeno Couto, um dos melhores jogadores do Brasil na Copa da Rússia, pode entregar para a seleção. E sabe tudo o que ele não está entregando faz tempo, para time nenhum. Se tem um técnico capaz de recuperá-lo e deixá-lo nos trinques para disputar o Mundial, não é Tite, mas sim Steven Gerrard, seu antigo colega de Liverpool —onde o brasileiro jogou seu melhor futebol— e atual treinador do Aston Villa, que acabou de contratar Coutinho por empréstimo.
Se o moço revelado pelo Vasco voltar a jogar bem sob a batuta de Gerrard, estará apto para a seleção. Antes, não deveria.
Assim, Tite perdeu uma boa chance para testar, por exemplo, Raphael Veiga, que fez pelo Palmeiras uma temporada muito superior à de Coutinho no Barcelona ou à de Everton Ribeiro no Flamengo. Mas, se Veiga não veio agora, é pouco provável que apareça nas próximas.
Dizer que não convocou quem não se reapresentou no clube ou que não está treinando é desculpinha. Se alguém da comissão de Tite entrasse em contato com Veiga e pedisse para ele ficar em forma no fim do ano, o meia palmeirense dispensaria até a rabanada.
E Dani Alves de volta é só o recibo de que estamos em crise nas laterais, posição em que passamos décadas com os melhores do mundo —Jorginho, Cafu e o próprio Dani Alves de um lado; Leonardo, Roberto Carlos e Marcelo do outro. É possível até que Tite abra mão de quatro laterais na Copa… talvez por outro atacante ou meio-campista.
Já o lateral Renan Lodi, do Atlético de Madrid, pode ter perdido a Copa por uma vacina. Sua imunização apenas parcial não ficou bem explicada: ele era negacionista e só tomou a vacina agora porque o clube —ou a seleção— obrigou? Por que não se imunizou antes? Aliás, Tite aproveitou a coletiva para dizer que tomar a vacina é uma "responsabilidade social". E talvez nessa hora o passado pese contra. No caso de Lodi, a falha na final da Copa América contra a Argentina, que resultou no gol do título de Di María.
Se a caixinha com os nomes que Tite vai levar para o Qatar não está fechada, parece cada vez mais que tem pouquíssimas aberturas.
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