No futebol fomos doutrinados a reverenciar o camisa 10 desde pequenos. Era a camisa do melhor de todos, Pelé. Argentinos dirão que o melhor é Maradona, os mais novos podem apontar Messi, não importa, todos são camisas 10.
Em tempos em que a camisa era numerada de 1 a 11, o 10 era "o cara" do time. Considerada uma das melhores seleções de todos os tempos, o Brasil de 1970 se deu ao luxo de escalar um monte de 10 no time titular: Pelé, Rivellino, Gerson e Jairzinho. E ainda tinha Tostão, 8 do Cruzeiro e 10 no meu coração.
Nesta semana, em outro futebol, o maior camisa 12 de todos os tempos parou de jogar, Tom Brady, chamado por muitos infiéis por aqui de "o marido da Gisele".
Nenhum outro jogador, com qualquer outro número, venceu tanto no futebol americano quanto Brady, dono de sete anéis de Super Bowl, seis com o New England Patriots e o último, no ano passado, com o Tampa Bay Buccaneers —mudou o time, mas o número continuou o mesmo.
Curiosamente, é possível que só agora, na aposentadoria, Brady receba o reconhecimento de melhor de todos os tempos.
Como no nosso futebol, enquanto Brady estava atuando, sempre tinha alguém para apontar algum defeito ou com algum argumento para dizer que o outro amiguinho era melhor.
Na era dos "superquarterbacks", muitos disseram que Peyton Manning (dois títulos) era mais talentoso e só não venceu mais devido às contusões. Disseram que Drew Brees ou Aaron Rodgers (um título cada um) eram mais precisos. Disseram que Patrick Mahomes (no auge da carreira e já com um título) é mais versátil. Disseram que ele só ganhava porque estava no time do técnico Bill "Muricy" Belichick, dos Patriots, o homem mais turrão da história do futebol americano (mala mesmo). Bem, eu já concordei com isso tudo —pronto, réu confesso.
E ano após ano, TB12 calava a todos. Assim que deixou o poderoso New England, foi campeão no ano seguinte; enquanto isso, Bill e seus blue caps nem chegaram perto da final.
Se Brady não era o mais talentoso (ainda que fosse muito talentoso), ninguém teve o comprometimento com o jogo que ele tinha, ferramenta fundamental em todos os títulos.
Para quem não teve muita chance de conhecer a carreira e as façanhas do camisa 12, a sugestão é a série "Man in the Arena", disponível no streaming Star+, que conta em dez episódios a história das dez finais do jogador, incluindo aquela da virada histórica, incluindo a do chute no último segundo, incluindo as três que perdeu… incluindo aquela em que Gisele arrumou um perrengue ao criticar os coleguinhas do time.
Curiosamente, o décimo e último episódio ainda não foi ao ar. Provavelmente o próprio Brady pediu para segurarem, para incluir um "grand finale" com aposentadoria e um último título —que não veio.
Quem adorava também falar sobre Super Bowl era o querido amigo de Redação Ygor Salles. Lembro quando ele foi ver a final numa sala de cinema com meu ingresso e me contou no dia seguinte toda a experiência. Infelizmente Ygor deixou toda a Redação de luto na última semana, a duas semanas de um novo Super Bowl. Um abraço afetuoso para toda a família, e um adeus para o amigo.
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