"Eles vão para a última curva, foi na última no ano passado… Hoje não, hoje não, hoje sim… hoje sim". Aconteceu há 20 anos uma das narrações mais emblemáticas da televisão brasileira, que veio junto com um dos maiores emputecimentos de torcedores brasileiros em qualquer esporte.

Foi no GP da Áustria de F1 de 2002, quando Rubens Barrichello pilotava uma Ferrari, a outra era do alemão Michael Schumacher; e quem narrava era Cleber Machado, na Globo. Àquela altura, já haviam sido disputadas 5 das 17 corridas da temporada. Schumacher tinha quatro vitórias —na verdade, tinha cinco, a outra era do mano Ralf.

Barrichello tinha feito a pole, largou na frente e liderou praticamente do início ao fim. Apontou na reta da 71ª e última volta para vencer, e freou abruptamente para que Schumacher o ultrapassasse, obedecendo assim uma ordem da escuderia italiana, para desespero de Cleber e dos torcedores (incluindo este escriba). "Olha, é inacreditável, não há nenhuma necessidade de a Ferrari fazer isso", emendou o narrador, ainda indignado, em 2002.

Aquela corrida, daquele jeito, escancarou algo que muita gente sabia, só não falava em voz alta. Era como dizer o nome de Voldemort em "Harry Potter", você não fala para não atrair coisa ruim. Mas muitas equipes, principalmente quando brigam pelo título com outra, sempre deram (e dão) ordem para a troca de posições.

O problema é que o brasileiro era um torcedor de F1 mal-acostumado, achava que todo ano tinha que ter um piloto "nosso" brigando pelo título —culpa de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Segundo lugar não era aceitável. E ver um brasileiro forçadamente entregar o primeiro lugar era para muitos inaceitável.

O que tornou o ato da Ferrari ainda mais condenável foi a falta de competitividade da temporada de 2002. A Ferrari dominava fácil, no fim do ano perdeu apenas duas corridas. Schumacher seria campeão com trocentos pontos de vantagem, mesmo perdendo aquele GP. Barrichello terminou aquele campeonato em segundo, com Juan Pablo Montoya bem atrás, em terceiro.

Parte da torcida brasileira não perdoou, ou não entendeu, mas, ao deixar Schumacher passar apenas na última reta, Barrichello foi genial —talvez involuntariamente. O pódio foi ainda mais bizarro, com Schumacher completamente desconcertado, vaiado, dando o lugar ao brasileiro.

​Valtteri Bottas foi companheiro de Lewis Hamilton durante anos. Pois quantas vezes você viu Bottas brigar pela vitória contra o inglês com um campeonato em aberto? Ou Pérez com Verstappen? A F1 sempre foi e sempre será um campeonato com equipes para o benefício de um piloto. Quando não foi, a equipe pagou o preço, como no campeonato de 1986, quando Nelson Piquet e Nigel Mansell perderam para Alain Prost mesmo com um carro melhor que o do francês.

Entre os pilotos que não conseguiram um título na F1, e são muitos, Rubens Barrichello está entre os melhores, assim como Felipe Massa… E, 20 anos depois, o Brasil não tem pilotos na principal categoria do automobilismo, mas Cleber Machado discute futebol e outros esportes em seu podcast, "Hoje Sim".

Atualização - Round 38

Após cinco rodadas de Brasileiro, o Cuiabá tem 7 pontos, à frente de Palmeiras, Flamengo e Fortaleza, para citar apenas times da Libertadores. Está em 11º lugar, posição que provavelmente deve garantir vaga para Champions League, Copa do Mundo ou algo parecido. Logo, o professor Pintado foi demitido. Parece que ficaram chateados por lá com eliminações na Sul-Americana e na Copa do Brasil. Assim, chegamos a seis demissões antes do início do round 6. Demitidos: Brasileiros 5 x 1 Estrangeiros. Sobreviventes: Brasileiros 7 x 8 Estrangeiros.