Sérgio Rodrigues

Escritor e jornalista, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”.

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Sérgio Rodrigues
Descrição de chapéu Copa do Mundo

O sofrimento, o acaso e a bola

Vencer não quer dizer que o Brasil será campeão ou mesmo que chegará longe

Rio de Janeiro

O Brasil está nas quartas de final depois de mais uma partida sofrida na Copa. Surpresa zero. Mesmo sem ter deslanchado, um time que tem um treinador competente como Tite, cracaços como Neymar e Coutinho, um sistema defensivo com Casemiro e Thiago Silva, entre outras qualidades, só pode ser menosprezado por critérios não esportivos, como o espírito de porco. Por que outro motivo parte tão ruidosa dos brasileiros estaria se comportando nesta Copa como o que Nelson Rodrigues chamava de "Narciso às avessas"?

Paulinho carrega Neymar nos ombros em comemoração; os dois estão com os braços abertos e com cara de felicidade;
Neymar comemora com Paulinho primeiro gol do Brasil sobre o México - Eduardo Knapp/Folhapress

Isso não quer dizer que o Brasil será campeão ou mesmo que chegará longe. Além de ainda precisar melhorar, não convém esquecer que o futebol é o esporte --jogos de azar não contam-- que mais se deixa permear pelo acaso, pelo subversivo e até pelo grotesco. Mora aí grande parte do seu encanto e também a razão pela qual o público americano, apaixonado por estatísticas e previsibilidade, tende a rejeitá-lo.

Em que outro campo um nanico esportivo como a Coreia do Sul pode derrotar um gigante como a Alemanha? O acaso não vem em estado puro, não se trata de roleta, mas tem poder suficiente para fazer os outros esportes populares parecerem frias ciências exatas.

Sendo humanos, buscamos no jogo mesmo assim a regularidade, os padrões, a lógica, ainda que tudo resulte num edifício fadado a desmoronar na próxima rodada. Domesticar o discreto caos do futebol é a aspiração dos craques, dos treinadores e também do torcedor.

Aos padrões, pois. A Copa tem punido as seleções que jogam mal? Isso seria dizer o óbvio, e não seria sequer uma boa generalização, uma vez que a Rússia está nas quartas e não é propriamente uma equipe de estilistas. Mas é verdade que a Copa tem sido cruel com seleções que jogam muito menos bola do que poderiam. A Alemanha, por fastio, soberba, envelhecimento, jogou bem menos do que poderia. A Argentina, por bagunça, maluquice, atração tangueira pelo abismo trágico e confiança excessiva em seu gênio, jogou menos do que poderia.

Quanto à Espanha... meu Deus, a Espanha. Essa jogou abaixo do seu potencial por uma mistura de covardia e concepção equivocada de futebol, um esporte que já deu mostras eloquentes de que não vai admitir --não sem retaliar-- ser subtraído do gol para se tornar uma tediosa roda de bobinho. Nem tudo é tão imprevisível assim.​

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