Sérgio Rodrigues

Escritor e jornalista, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”.

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Sérgio Rodrigues
Descrição de chapéu Eleições 2018

Meus queridos bolsonaristas

Uma carta aflita e sincera a todas as pessoas amadas que votam 17

Queridos amigos e parentes que estão decididos a votar 17 neste domingo:

Sei que vocês, pessoas de bem que querem o bem do Brasil, não estão vendo o que eu vejo. Por isso preciso lhes falar de uma convicção minha que não para de crescer: nosso país está prestes a ser tomado, com a ajuda do seu voto, por um tipo concentrado de mal. 

Já começou. O mal já patrulha nossas ruas em forma de milícias informais que odeiam mulheres, negros, homossexuais, trans, índios, pobres, "vermelhos" e quem mais cismem de maltratar ou assassinar em nome de diferenças reais ou imaginárias.

Sentem-se autorizados a isso pela retórica violenta e nada cristã do capitão Jair Bolsonaro, aquele que Ernesto Geisel chamou de "mau militar" (não é fake news, Geisel disse isso, eu li seu depoimento de 1993 à Fundação Getulio Vargas).

O mal já se manifesta também no repúdio dos países decentes àquilo que o Brasil está perto de se tornar. Até Marine Le Pen, rainha da extrema direita francesa, que de moderada não tem um átomo, tomou distância das posições repulsivas (o adjetivo é do jornal The New York Times) de Bolsonaro.

O mundo prevê que um governo pautado em valores tão primitivos rebaixará o Brasil ao inferno moral onde ardem países como Filipinas e —sim, o que vocês mais temem!— Venezuela. Surpresos? É que essas coisas não têm a ver com direita ou esquerda. Têm a ver com respeito ou desrespeito às instituições democráticas.

Em decorrência da onda de repúdio planetário, nossa balança comercial e nossa participação em acordos de cooperação devem pagar um preço alto. Ficaremos (já estamos ficando) mais isolados e mais pobres.
O Brasil é um país atrasado que perde posições em velocidade alarmante na corrida do século 21, à medida que a educação ganha mais peso na agenda global e questões como consciência ambiental e respeito à diversidade humana passam a marcar a linha de corte entre as nações de ponta e as de retaguarda.

Somos, para usar uma imagem boleira, um país da série B do planeta. Fizemos uma ou duas boas campanhas, mas nunca ascendemos à série A —por pura falta de merecimento.

Agora estamos flertando com o rebaixamento para a série C, aquela dos países de cidadania restrita e democracia relativizada ou inexistente. Trata-se de uma experiência radical. A vida de todo mundo na série C é muito pior.

Ah, vocês acham que o rebaixamento já rolou e foi promovido pelo PT? Estão enganados. Os crimes do partido que passou tantos anos no poder, agarrando-se a ele de forma indigna, foram revoltantes —nisso concordamos!

Acontece que o PT não detonou a democracia. Já Bolsonaro... Bem, quem terá a cara de pau de se dizer surpreso se o Supremo Tribunal Federal for o primeiro a ser fechado?

Eu sei: por uma conjunção de fatores de rara infelicidade, é provável que esse caminho maluco seja a escolha da maioria. Mas ainda dá tempo de vocês, pessoas queridas, evitarem o comprometimento pessoal com tanto ódio e tanta dor.

Gostaria de lhes pedir um minuto de reflexão. Reparem nos sinais: eles são claros e dão medo. Vocês não sentem? Engraçado, porque eu ando morrendo de medo pelas pessoas que amo, e vocês estão entre elas.

Se, no fim das contas, seu senso de justiça não lhes permitir votar 13, o que compreendo, o voto nulo já evitará sua cumplicidade com a derrapada que, tudo indica, vai machucar bastante o Brasil na próxima curva.

Com respeito e carinho,

Sérgio

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