Sérgio Dávila

É diretor de Redação da Folha e autor dos livros "Diário de Bagdá - A Guerra do Iraque segundo os Bombardeados" e "Nova York - Antes e Depois do Atentado".

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Sérgio Dávila

Mark Zuckerberg não sabe o que fala

E 127 milhões de brasileiros podem ser influenciados por ele

Mark Zuckerberg durante depoimento no Senado americano, em abril deste ano

Mark Zuckerberg durante depoimento no Senado americano, em abril deste ano Jim watson - 10.abr.18/AFP

Na mesma semana em que o Facebook divulgou ter atingido no Brasil a marca inédita de 127 milhões de usuários mensais ativos (ou MAUs, na sigla em inglês), o criador da rede social deu longa e reveladora entrevista em que deixa escapar sua convicção monopolista e seu desconhecimento da natureza da informação.

À jornalista americana Kara Swisher, do site Recode, em um dos primeiros encontros com a imprensa desde que explodiu o escândalo do uso indevido de dados de usuários, Mark Zuckerberg defendeu a manutenção do tamanho de sua empresa invocando o perigo amarelo.

Se decidirem cortar as asas de companhias como a nossa, disse ele, a alternativa serão os chineses. “E eles não compartilham dos mesmos valores que temos.” A ironia é que foi a Rússia que nadou de braçada nos valores e princípios do “Feice”, ao influenciar indevidamente usuários durante as eleições presidenciais de 2016, que colocaram Trump na Casa Branca.

Em outro trecho, revela que há 20 mil funcionários dedicados a “revisar o conteúdo” publicado nas páginas do Facebook. Como eles fazem isso, e quais os critérios adotados? Zuckerberg se atrapalha na resposta.

Se uma pessoa nega que o massacre de Sandy Hook, em que um atirador matou 26 pessoas numa escola dos EUA em 2012, entre as quais 20 crianças, tenha ocorrido, os “revisores” tiram a página do ar. Se outra pessoa nega que o Holocausto judeu que exterminou milhões na Segunda Guerra tenha acontecido, sua página continuará no ar.

Se uma informação for marcada por muitos usuários como potencialmente falsa, e se os checadores factuais da empresa chegarem à conclusão de que ela é provavelmente falsa, então o conteúdo perderá sua força de distribuição nas timelines das pessoas.

Entendeu a lógica? Nem Zuckerberg. Na mesma conversa, ele se diz preocupado com as eleições do Brasil. Os 127 milhões de brasileiros que usam a rede também deveriam estar.

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