Sidney Klajner

É cirurgião do aparelho digestivo e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

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Sidney Klajner
Descrição de chapéu Coronavírus

Aprendizados da pandemia: saberemos usá-los para melhorar a saúde no Brasil?

Precisamos plantar mudanças e transformações para tornar o sistema de saúde mais eficiente, acessível e sustentável

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A pandemia ainda não acabou. Mas não precisamos ter os poderes de Jano —o deus da mitologia romana que, com suas duas faces opostas, era capaz de olhar para o passado e o futuro— para enxergar os ensinamentos que essa crise já nos trouxe e a possibilidade de convertê-los em aceleradores das necessárias transformações na área da saúde em nosso país.

O primeiro ponto é a ratificação do papel da ciência. Basta olhar o que acontece no mundo: os países com melhores resultados no enfrentamento da Covid-19 são os que adotam iniciativas baseadas em evidências científicas.

Outro aspecto que a pandemia enfatizou foi o poder das redes colaborativas na geração de respostas urgentes: do desenvolvimento das vacinas em tempo recorde às pesquisas sobre o vírus, a doença e os tratamentos; do compartilhamento de conhecimentos para incorporar os melhores protocolos ao envolvimento de organizações privadas de saúde e de outros segmentos em ações para o atendimento de pacientes do SUS... Exemplos podem ser encontrados aos milhares. Com tantas carências no universo da saúde em nosso país, colaboração seguirá imprescindível para evoluirmos.

Aliás, movimentos colaborativos que surgiram na primeira onda seguem tecendo novos laços para atacar fragilidades que a própria pandemia escancarou, como a inexistência de vigilância epidemiológica, que nos permita, por exemplo, saber quantos indivíduos infectados com a variante delta entraram no Brasil. A capacidade do país de realizar o sequenciamento genético deixa a desejar.

Pois bem, o Todos pela Saúde, projeto que em 2020 uniu lideranças que pensam a saúde no país para colaborar com o enfrentamento da crise, virou um instituto para o apoio à pesquisa e formação de recursos humanos em epidemiologia genômica. Mantida por doações, é uma bem-vinda atividade colaborativa de seis instituições dos setores privado e público.

Sob as lentes de aumento da pandemia, vimos ainda a heterogeneidade da presença de especialistas nos diferentes estados, uma evidência de que precisamos de políticas e programas governamentais para formar esses profissionais e criar atrativos para que se fixem nas regiões mais carentes.

A pandemia também ajudou a corroer resistências e impulsionou a telemedicina. Vetadas por uma regulação obsoleta criada em 2002, quando nem smartphone existia, as teleconsultas foram liberadas por uma lei temporária. É uma bandeira defendida pelo Einstein como instrumento inovador e necessário, desde 2012, quando implementamos o nosso centro de forma pioneira.

Telemedicina amplia o acesso aos cuidados e evita sobrecargas ao sistema de saúde. Além disso, com o uso de plataformas digitais, dados dos pacientes podem se reverter em mecanismos de prevenção e controle de doenças e promoção da saúde. Telemedicina vai muito além de uma consulta médica a distância. Por isso, essa lei temporária tem de se transformar em permanente, cabendo às sociedades médicas garantir a qualidade do atendimento e o respeito à privacidade dos dados do paciente.

Com seus dons e seu olhar para o passado e o futuro, Jano era o deus romano das mudanças e transformações. Mas nós não precisamos ser deuses. Precisamos apenas colher os ensinamentos que a pandemia trouxe, plantando mudanças e transformações para tornar o sistema de saúde mais eficiente, acessível e sustentável e mais capaz de cumprir sua missão: entregar saúde para a população.

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