Efeitos ambientais e socioeconômicos de temperaturas extremas, secas, enchentes e furacões impactam diversos aspectos da vida humana.
Segundo o relatório de 2020 do grupo internacional The Lancet Countdown, que acompanha os efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde humana, as mortes de pessoas com mais de 65 anos relacionadas ao calor excessivo aumentaram 53,7% nos últimos 20 anos.
O mesmo documento mostra que nenhum país está a salvo dos impactos na saúde provocados pelas alterações do clima, embora eles variem de acordo com as condições socioeconômicas de cada região e afetem especialmente indivíduos mais vulneráveis, como os idosos e os que já têm alguma doença.
Frio ou calor intenso, má qualidade do ar e da água, queda na produção de alimentos e maior ação de microrganismos vetores de doenças são alguns dos fatores que ajudam a explicar efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde. Vamos enumerar alguns exemplos:
1) Internações e óbitos por infarto e acidente vascular cerebral aumentam quando temos temperaturas extremas por períodos mais prolongados
2) A poluição provocada pelos combustíveis fósseis e por incêndios e queimadas, como as que temos visto no Brasil, elevam o risco de doenças respiratórias e outras enfermidades, inclusive o câncer
3) O aumento da temperatura e das áreas de devastação florestal afeta a biodiversidade, fazendo com que algumas espécies desapareçam e abram espaço para que outras se fortaleçam —e aqui se incluem insetos vetores de doenças como dengue, zika e chikungunya;
4) A escassez e má qualidade da água e as precárias condições sanitárias e de higiene compõem terreno fértil para enfermidades infectocontagiosas e problemas gastrointestinais como a diarreia
5) Secas, geadas e outros fenômenos prejudicam a produção agropecuária, reduzindo a oferta de alimentos. O mesmo se aplica à pesca em razão dos impactos climáticos nos oceanos. Menos comida na mesa significa mais desnutrição
6) Inundações, furações e deslizamentos de terra ceifam vidas e deixam milhares de pessoas sem teto a cada ano
7) Por fim, eventos extremos, desastres e outros reflexos das alterações do clima em nossas vidas são geradores de estresse, ansiedade e depressão, deteriorando a saúde mental da população
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas causarão aproximadamente 250 mil mortes adicionais por ano por desnutrição, malária, diarreia e estresse por calor. Calcula, ainda, que os custos diretos dos danos à saúde superarão os US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,52 bilhões) por ano até 2030.
Em uma recente apresentação para o Comitê de Responsabilidade Social do Einstein, o consultor Tasso Azevedo citou que os combustíveis fósseis são responsáveis por cerca de dois terços das emissões de gases de efeito estufa no mundo, ao passo que florestas e oceanos não dão conta de absorver todo esse carbono.
Precisamos, portanto, rumar urgentemente para uma economia de baixo carbono, o que inclui investir em energias renováveis, eletrificação dos transportes, deter o desmatamento e reflorestar.
Quinto maior emissor global de gases de efeito estufa, o Brasil é signatário do Acordo de Paris, compromisso de países para manter bem abaixo de 2°C o nível de elevação da temperatura do planeta. Infelizmente, o Brasil tem andado de marcha à ré —somente entre 2018 e 2019 aumentou em quase 10% suas emissões, sobretudo por conta do desmatamento da Amazônia.
Assim, temos razões de sobra para nos preocupar e cobrar dos governantes a retomada da agenda para mitigar as mudanças climáticas. Abrir mão dela é pagar um preço alto não apenas em termos socioambientais e econômicos, mas sacrificar o bem mais valioso que temos na vida: a saúde.
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